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INVESTIGAÇÃO

O aceno de Augusto Aras à cúpula da CPI da Covid

Augusto Aras na sabatina do Senado em que foi aprovado para a PGR: avaliar relatório da CPI só depois da recondução

Foi repleta de indiretas a visita repentina do procurador-geral da República, Augusto Aras, à cúpula da CPI da Covid, nesta terça-feira. Mas uma mensagem ficou bem clara para os senadores Omar Aziz, Randolfe Rodrigues e Renan Calheiros - respectivamente o presidente, o vice e o relator da comissão.

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O relatório final da CPI pode vir a ter mais chances de ser analisado “com isenção” e se transformar num inquérito ou denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro se for enviado à PGR depois da recondução de Augusto Aras ao cargo.

Trocando em miúdos, foi o que Aras sugeriu quando instado pelos senadores a “assumir um compromisso” de dar consequência às descobertas e acusações da comissão ao presidente da República.

Na conversa com os senadores, ocorrida no gabinete de Aziz, Aras evitou se comprometer. Disse que, no momento, não pode tomar providências contra o governo porque está preso às circunstâncias (ou seja, esperando que sua recondução para o cargo seja aprovada). 

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Mas afirmou que, depois de reconduzido, ele estará mais “livre” para avaliar o relatório "com isenção". Para bom entendedor, foi o que bastou para compreender que, enquanto depender da caneta de Jair Bolsonaro para se manter no posto por mais dois anos, Aras nada fará contra o presidente e seu governo. 

Difícil acreditar nessa conversa, já que, até agora, a PGR – que detém o poder de propor ações contra o presidente da República –, tem evitado se manifestar sobre a CPI. Da última vez que o fez, em um parecer do vice-procurador-geral, Humberto Jaques, pediu à ministra Rosa Weber, do Supremo, para esperar o final da comissão antes de começar a investigar irregularidades na compra da vacina Covaxin. A ministra não autorizou. 

Por causa disso, aliás, um grupo de senadores entrou com uma notícia-crime contra Aras para que ele seja investigado por prevaricação no STF.

Na conversa com a cúpula da CPI, na última terça-feira, Aras sugeriu que tal cenário pode mudar depois que ele for reconduzido. Isso porque, como não terá mais direito a um novo mandato, Aras não teria as mesmas amarras de hoje com o presidente da República. O mandato do procurador-geral termina em meados de setembro, e a sabatina na CCJ foi marcada para 25 de agosto. 

Tal argumento certamente deixará de valer se Aras acabar sendo convertido em candidato do próprio governo à vaga aberta para ministro do STF. Essa é uma alternativa que tanto o procurador-geral quanto aliados do governo contemplam, se André Mendonça de fato não tiver chances de ser aprovado no plenário do Senado. 

A própria situação em que o encontro de de Aras com a CPI ocorreu já demonstra a que tipo de circunstância o procurador-geral julga estar atado. 

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Segundo relato de pessoas que acompanharam o episódio, Aziz, Randolfe e Renan conversavam sobre a necessidade de convencer Aras a não enterrar o relatório da CPI, quando o senador do Amazonas decidiu ligar para o celular do procurador-geral e pedir que marcassem uma reunião. 

Aras estava justamente no Senado, no gabinete de Eduardo Girão (Podemos-CE), que atua com o governo na CPI.  Fazia campanha para sua recondução ao cargo, que para ser confirmada precisa do aval de pelo menos 41 senadores em votação no plenário. 

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O presidente da CPI então pediu que o procurador-geral fosse até seu gabinete. Apesar de ainda um pouco irritado com a recente manifestação de Aras em um pedido de abertura de inquérito feito pelo governo Bolsonaro contra ele - a PGR arquivou o inquérito e descartou crime, mas disse que Aziz poderia ter quebrado o decoro ao declarar que há um lado podre nas Forças Armadas - o clima da conversa com a cúpula da CPI foi amistoso. 

Calheiros e o próprio Aziz devem votar a favor a recondução de Aras no plenário. Randolfe deve ser contrário. 

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Já a cúpula da CPI terá de considerar todas essas variáveis para definir quando afinal encerrar suas atividades. E torcer para que Augusto Aras tenha motivos para avaliar o relatório final da comissão com a "isenção" prometida.

Do contrário, terão de assistir ao triunfo de Aras no Senado, enquanto o relatório da CPI vai para o fundo de algum armário no Ministério Público Federal. 



 

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