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    Isis-K: Quem é o rival do Talibã que ameaça a retirada dos EUA no Afeganistão

    Grupo, nascido após a morte de Osama bin Laden, é citado como uma ameaça para a evacuação do Afeganistão por Joe Biden

    Combatentes do Talibã exibem armas nas ruas de Cabul na quinta-feira (19), durante o "Dia da Independência do Afeganistão"
    Combatentes do Talibã exibem armas nas ruas de Cabul na quinta-feira (19), durante o "Dia da Independência do Afeganistão" AP

    João de Marida CNN

    São Paulo

    Apesar das imagens que mostram o caos no processo de retirada do Afeganistão, o presidente norte-americano, Joe Biden, garantiu que os Estados Unidos estão no caminho certo para retirar seus cidadãos e aliados do país até o dia 31 de agosto, prazo acordado com o Talibã.

    Lourival Sant’Anna, analista internacional da CNN, avalia que a missão pode fracassar e que Biden vai “deixar os afegãos que trabalharam para eles para trás”.

    “Os EUA estão usando helicópteros, mas não pretendiam fazer isso. Estão orientando americanos a não irem às filas do aeroporto, mas sim para áreas estratégicas para não serem alvos. Eles estão sendo resgatados por helicópteros nesses pontos e levados diretamente aos aviões militares”, afirma.

    A pressa norte-americana tem em parte o medo de ataques. Em um pronunciamento nesta terça-feira (24), Biden afirmou que a ameaça do grupo terrorista Estado Islâmico K, conhecido também na sigla “Isis-K”, coloca a missão em risco.

    “Estamos com risco agudo e crescente de um ataque por um grupo terrorista conhecido como Isis-K. Todos os dias que estamos no solo afegão é outro dia em que sabemos que o Isis-K está tentando atingir o aeroporto e atacar tanto as forças dos Estados Unidos quanto as aliadas e civis inocentes”, disse Biden.

    O grupo, nascido após a morte de Osama bin Laden, quando Biden foi vice-presidente de Barack Obama, não é o mesmo que ganhou fama com ações em outras nações no Oriente Médio, mas também não é necessariamente um aliado do Talibã, que assumiu o controle do Afeganistão após a retirada americana.

    Inimigo do Talibã

    Isis-K é um grupo autointitulado terrorista que surgiu pela primeira vez na região chamada Khorasan (entre o Afeganistão e Paquistão), em 2015, segundo o professor e mestre em relações internacionais Tanguy Baghdadi.

    Em entrevista à CNN, Baghdadi conta que a facção foi inspirada no Estado Islâmico no Iraque e no Levante, conhecido pela sigla Isis, criado em 2013. Ela foi criada após morte de Osama Bin Laden, ex-líder da Al-Qaeda, em 2011.

    “Desde que o Isis foi criado, surgiram diversos grupos ora inspirados nele, ora que jurassem lealdade a ele. O Isis-K foi um desses: jurou lealdade mesmo que não fosse controlado pela organização”, explica.

    Ou seja, a criação do Isis-K é uma consequência da ocupação norte-americana após a morte de Bin Laden, segundo o analista.

    Já o movimento que posteriormente viraria o Talibã surgiu no fim dos anos 1970, no contexto de resistência do Afeganistão contra a invasão da União Soviética (URSS), com ajuda dos Estados Unidos. A URSS foi derrotada e o Afeganistão observou o surgimento de diversas correntes religiosas.

    O Talibã foi oficializado como grupo em 1994. Dois anos depois, em 1996, o grupo tomou a capital Cabul pela primeira vez e se tornou o governo do país, reprimindo duramente os afegãos.

    No início deste mês, cerca de duas décadas após perder o controle do país, o Talibã reassumiu o governo do Afeganistão. Temendo represálias e ataques contra cidadãos norte-americanos e aliados do país desde a guerra, Biden passou a autorizar operações de retirada.

    “O Talibã está longe de ser o único grupo do Afeganistão. Vários deles podem querer aproveitar o momento, marcado pela saída dos EUA. Então [um ataque terrorista] é possível sim”, avalia Baghdadi.

    Afegãos tentam deixar o país após o Talibã assumir o comando
    Afegãos tentam deixar o país após o Talibã assumir o comando / REUTERS

    Isis-K busca converter muçulmanos no mundo

    Assim como o Talibã, o Isis-K também pertence ao chamado “Islã radical sunita”. Porém, as organizações disputam o mesmo espaço no Oriente Médio.

    O analista internacional da CNN, Lourival Sant’Anna, explica que as diferenças entre o Isis-K e o Talibã também estão nos ideais e governabilidade.

    Enquanto o Talibã tem uma ideologia nacional, segundo ele, o Estado Islâmico-K é “multinacionalista” e tenta converter muçulmanos ao redor do mundo para vingar o que consideram uma “dominação judaico-cristã”.

    “O talibã tem ideologia nacional, querem governar o Afeganistão, não querem inimigos externos e nunca quiseram provocar outros países. São um movimento nacional para governar o país”, diz.

    “Já o Isis-K é multinacionalista, querem atuar em todos os países que hajam muçulmanos. Eles recrutam muçulmanos no mundo todo para desestabilizar quem não segue a visão do islã”, conclui.

    Briga por dinheiro

    A rivalidade também se estende na questão do recrutamento e também nas doações de dinheiro por parte de apoiadores dos movimentos.

    Segundo Sant’Anna, o recrutamento para a facção acontece desde cedo em escolas religiosas e mesquitas.

    “Os grupos competem em recrutamento e também nas doações de dinheiro de muçulmanos que gostam dessa visão. No Afeganistão, eles competem em influência em áreas que controlam”, explica.

    Lourival Sant’Anna, analista internacional da CNN, avalia que a missão pode fracassar e que Biden vai “deixar os afegãos que trabalharam para eles para trás”. / AP

    Revide dos EUA

    Para o analista internacional, se hipóteses de ataques terroristas se concretizarem, há grandes chances dos EUA revidarem.

    “Se tiver atentado provavelmente os Estados Unidos vão revidar os ataques, mas me parece que vão levar a operação adiante”, avalia.

    Já o professor Tanguy Baghdadi acredita que a presença norte-americana no Afeganistão não deve se prolongar, sobretudo neste momento de tensão.

    “A consequência seria uma pressão dos EUA sobre o Talibã para conter ações deste tipo, sem perder de vista que há um diálogo intenso entre o grupo e membros do governo norte-americano”, ressalta.

    Os Estados Unidos já retiraram 70.700 pessoas desde 14 de agosto e 75.900 desde o final de julho, segundo dados apresentados pelo presidente norte-americano.