O senador Romero Jucá (MDB-RR) anunciou nesta segunda-feira (27) que deixou a liderança do governo no Senado por não concordar com a forma como o Palácio do Planalto tem conduzido a crise dos imigrantes venezuelanos em Roraima.
Ele comunicou a decisão pessoalmente ao presidente Michel Temer, em reunião no Planalto, na qual entregou um carta, divulgada em seguida para a imprensa.
O G1 procurou o Palácio do Planalto para comentar a decisão do senador. A Presidência não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.
Jucá, candidato nas eleições de outubro a um novo mandato de senador por Roraima, defende que o governo federal feche a fronteira do estado para venezuelanos. Temer afirmou em mais de uma oportunidade que não cogita fechar a fronteira.
Roraima é a principal porta de entrada dos imigrantes venezuelanos no Brasil. O estado tem enfrentado dificuldades para lidar com o volume de estrangeiros, que deixam o país vizinho para fugir da crise econômica e social.
"Acabo de comunicar ao presidente Michel Temer que deixo a liderança do governo por discordar da forma como o governo federal está tratando a questão dos venezuelanos em Roraima.", afirmou o senador em sua conta no Twitter. Depois ele deu uma entrevista no Palácio do Planalto.
Jucá anuncia ter deixado liderança do governo
Na carta enviada para Temer, Jucá afirmou que é obrigação do governo zelar pelos interesses dos estados da federação.
"Somos uma República federativa, a obrigação precípua do poder central é cuidar dos entes federados, do bem-estar, e da segurança da população, não se apegando a interesses internacionais em detrimento da realidade, do bom senso e da responsabilidade com o nosso povo", disse o senador.
Jucá é um dos principais aliados de Temer na política. Ele foi ministro do Planejamento no início do mandato do presidente, logo após o afastamento de Dilma Rousseff, em 2016. No entanto, deixou o cargo de ministro em seguida, ao aparecer em áudios do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado sugerindo um "pacto" para barrar a Lava Jato.
Jucá seguiu dando apoio à gestão Temer como líder no Senado. Na carta enviada a Temer, ele disse que sente "orgulho por tudo que conseguimos realizar nesses dois anos de governo".
No entanto, segundo ele, o posto de líder do governo não combina com as cobranças que ele faz com relação à crise dos imigrantes em Roraima.
"Entre o posicionamento em defesa de Roraima, e as ações do governo federal, não titubeio em ficar ao lado do nosso povo e do estado que represento", disse Jucá.
O senador ressaltou que a decisão não é um rompimento político com Temer. Jucá preside o MDB, mesmo partido de Temer.
Propostas entregues ao governo
Na entrevista após reunião com Temer, o senador afirmou que sugeriu ao presidente, há uma semana, o fechamento provisório da fronteira para venezuelanos, a fixação de cotas para imigração e a criação de um corredor humanitário para levar os estrangeiros a outros locais.
Porém, de acordo com Jucá, o governo disse que não poderia atender a proposta.
"O governo teve uma semana para estudar a proposta, o governo entendeu que não pode fazer o que está se propondo", afirmou o senador.
No caso do pedido para fechar a fronteira, Jucá afirmou que o governo considera a possibilidade "inegociável".
"O governo disse que é inegociável fechar a fronteira sob qualquer ponto de vista, e eu entendo que sem o fechamento da fronteira para organizar o trabalho, o assunto só vai agudizar", completou o senador.