Policiais militares organizam-se para participar de ato pró-Bolsonaro

Organização é feita por grupos de WhatsApp; falam em “exigir” o poder e luta contra o comunismo

Formatura de soldados da PM em São Paulo, Estado com maior efetivo do país
Copyright Diogo Moreira/A2 - 30.abr.2014

Policiais militares preparam-se para participar de atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) marcados para 7 de setembro –feriado da Independência. O Poder360 acompanhou a movimentação de grupos de WhatsApp de agentes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Praças e oficiais das ativa e da reserva falam em “exigir” o poder, luta contra o comunismo e retirada dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Em um dos grupos acessados, “Rota Eterna”, policiais combinaram de comparecer à manifestação da avenida Paulista usando as boinas da corporação, ideia apoiada pelos outros contatos, reconhecidos como capitães e sub-tenentes da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, grupo de elite da PM de São Paulo.

Veteranos da Rota falam em “não pegar em armas”, mas em manifestar-se como “batalhão de vanguarda”. Colocam o presidente Jair Bolsonaro como mártir do que chamam de “guerra ideológica”. “Participamos e resolvemos Canudos, após 3 tentativas infrutíferas do governo federal pediram ajuda ao nosso batalhão e quando fomos resolvemos o problema. Participamos de todos os movimentos e revoluções do país, mas agora a missão é outra, não falo em pegar em armas, mas nos posicionar como Batalhão da vanguarda e no dia 7 de Setembro unirmos forças e mais uma vez, todos nós veteranos mostrarmos nossa força.”

Policiais do Rio de Janeiro pretendem marchar de Niterói até a praia de Copacabana. Segundo a última mensagem no grupo “PMS DO BRASIL ??”, 5 ônibus lotados de agentes são esperados no feriado. Falam em maior manifestação da história do país. “Sangue nos olhos e muito amor no coração pela nossa pátria! Deus, Pátria, Família e Liberdade!!! Que os bons se unam!”

Nesta 2ª feira, o governador João Doria (PSDB) afastou o coronel Aleksander Lacerda, responsável por 7 batalhões da PM no interior paulista. Aleksander usava as redes sociais para insuflar PMs a comparecer aos atos. Pediu tanques nas ruas, disse que a liberdade “se toma” e fez duras críticas e ofensas contra os ministros Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes, do STF.

No sábado, o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo Ricardo Nascimento de Mello Araújo divulgou um vídeo conclamando policiais do Estado a participarem das manifestações a favor de Bolsonaro. Mello Araújo é ex-comandante da Rota e atual presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), empresa pública federal, vinculada ao Ministério da Economia.

Nas redes sociais, circula também o vídeo do coronel reformado do Corpo de Bombeiros Davi Azim, do Ceará, convocando apoiadores para “adentrar ao STF e ao Congresso” no 7 de Setembro. Assista ao vídeo abaixo (7min26seg):

RISCO INSTITUCIONAL

Para o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor de gestão pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, o que acontece em São Paulo mostra uma contaminação ideológica forte na PM. “Se isso acontece em SP, que tem uma das policiais mais disciplinadas do Brasil, a gente fica imaginando o que está acontecendo no resto do país”, disse.

A minha preocupação é que aconteçam manifestações com violência, que a polícia decida ficar de um lado desses manifestantes, que as Forças Armadas não consigam controlar essa situação ou não tenham interesse. Então o Brasil tem um sério risco de caminhar para uma quartelada daqui até a eleição.

O Poder360 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para saber qual é a posição do Estado sobre a participação de policiais da ativa em protestos. O espaço segue aberto.

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