Porchat investe R$ 240 mil no teatro: 'Para o governo, a cultura é inimiga'

Fábio Porchat prefere "colocar a mão na massa", como ele diz, "mesmo parecendo otário por pagar tantos impostos".

O apresentador e humorista investirá R$ 240 mil, do próprio bolso, para injetar ânimo na aguardada retomada cultural em 2022. A iniciativa se conecta diretamente com o Prêmio do Humor, projeto criado por ele em 2017, cuja próxima edição selecionará três espetáculos para receber R$ 80 mil de apoio cada.

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Estamos em uma dura pandemia, aliada a um duro governo, que se vinga dos artistas e que vê a cultura como inimiga das pessoas. O teatro sempre sai bastante prejudicado por não ter investimento e interesse público. Mas, ao mesmo tempo, já sobrevivemos a muito mais que essa 'gripezinha do presidente', o teatro sobreviveu à peste negra, guerras, e permanece firme. Ano que vem, retomamos com força total.

Para receber o incentivo, os projetos apresentados deverão cumprir regras como ter pelo menos 50% do elenco de pessoas negras. Ele reforça a importância dada à inclusão, ao empoderamento e para que mais vozes sejam ampliadas pela arte.

Sempre peço para trabalhar com comediantes negros e falam: 'Ah, Fábio, não tem!'. Como é que não tem? Tem um monte. Talvez não sejam famosos, mas não adianta ficar com aquilo de 'não pode chamar porque não é famoso, mas não é famoso porque nunca é chamado'. Precisamos ir além da fala de 'racista em desconstrução'. O próximo passo é qual? É a ação.

'Minha forma de fazer política é incentivando a cultura'

Com críticas ao atual governo de Jair Bolsonaro (sem partido), Fábio Porchat diz que não se vê em um cargo político. E , apesar de ouvir questionamentos nas redes sociais, nunca pensou em se candidatar.

"A minha forma de fazer política é incentivando a cultura, divulgando aquilo que eu acredito, falando de livros e arte", diz. E segue: "Temos um governo que escolheu pessoas para funções importantes que odeiam o seu trabalho. A Damares [Ministra dos Direitos Humanos] é contra Direitos Humanos, assim como o secretário de cultura [Mário Frias], que não cria possibilidades e editais e vem com um papo de impedir que as coisas aconteçam. Gente que odeia o que faz".

'Nunca votei no Lula'

Mesmo criticando o atual Governo, Porchat já ganhou o apelido de "isentão" ou "em cima do muro" nas redes sociais por também fazer duras críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O apresentador culpa a polarização política por não saberem "onde o encaixar".

A política virou um debate muito raso e polarizado e eu já critiquei mesmo o PT e o Lula. Você pode ter todas as críticas ao Lula que você quiser, mas ele é um ser humano. O Bolsonaro é um psicopata. Quer falar de corrupção? Acho maravilhoso. Nunca votei no Lula. Agora não dá para comparar: ou é Lula ou Bolsonaro? Primeiro temos que estabelecer empatia, democracia, liberdade e ser humano, depois a gente vai pro próximo passo.

Alvo de ataques por contas declaradamente bolsonaristas nas redes sociais, Porchat diz que o número de seguidores de Jair Bolsonaro está em queda e o que ele chama de "hipnose coletiva" está próxima do fim.

"Estão fraquinhos, em minoria. As pessoas acordaram um pouco. Essa gente é covarde, a verdade é essa, eles gritam, mas só na internet.

Flexibilização e volta dos eventos:

Ainda debatendo como os políticos lidam com a cultura, especialmente neste momento de pandemia, Porchat, que espera a retomada do teatro em 2022, dá seu ponto de vista sobre a flexibilização nas medidas de segurança contra a covid-19 e destaca a importância do diálogo:

Fica este 'abre, fecha, abre e fecha' dos lugares. Não tem planejamento? Conversa? Um time trabalhando em paralelo para pensar como reabrir? Sinto que agora não é o momento de abrir estádio de futebol, onde aglomeram e tiram a máscara. Não me parece um bom momento para shows. Mas aí eu não tenho conhecimento. Especialistas podem e devem falar melhor. É preciso de diálogo e planejamento.