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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O dia 8 é mais importante que o dia 7

Milhões irão às ruas na terça, mas o poder do bolsonarismo vai depender de como as oposições reagirem no dia seguinte

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 set 2021, 11h04

Se tudo correr dentro do script, milhões de brasileiros irão às ruas em dezenas de cidades no feriado de Sete de Setembro para demonstrar seu apoio ao ensaio do autogolpe de Jair Bolsonaro. Caminhões e tratores trancarão rodovias no Centro-Oeste. Em Brasília, haverá risco de confronto com os indígenas acampados e depredação dos prédios do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. A multidão juntará policiais armados, famílias religiosas e caravanas vindas de todo o País. Em São Paulo, Bolsonaro falará para centenas de milhares na avenida Paulista e dirá ter o apoio das massas para descumprir decisões do STF e impor o voto impresso para as próximas eleições.

Na sexta-feira (03/09) e no sábado (04), Bolsonaro ensaiou o discurso, centrando seus ataques nos ministros do STF Alexandre de Moraes e Roberto Barroso. O primeiro por presidir o inquérito que investiga a máquina de ódio bolsonarista; o segundo, por ter derrubado o projeto do voto impresso:

“Essas uma ou duas pessoas têm que entender o seu lugar. E o recado de vocês povo brasileiro na próxima terça-feira será um ultimato para essas duas pessoas (Moraes e Barroso): ‘curvem-se à Constituição. Respeitem a nossa liberdade. Entendam que vocês dois estão no caminho errado. Porque sempre dá tempo para se redimir’”.

“Se alguém quiser jogar fora das quatro linhas da Constituição, nós mostraremos que poderemos fazer também valer a vontade e a força do seu povo. Quem dá esse ultimato não sou eu, é o povo brasileiro, povo esse no qual nós todos políticos devemos lealdade”.

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“O STF não pode ser diferente do Poder Executivo ou Legislativo. Se lá tem alguém que ousa continuar agindo fora das quatro linhas da Constituição, aquele Poder tem que chamar aquela pessoa e enquadrá-la, e lembrar-lhe que ele fez um juramento de cumprir a Constituição. Se assim não ocorrer, qualquer um dos três Poderes… A tendência é acontecer uma ruptura”.

“Ruptura essa que eu não quero nem desejo. Tenho certeza, nem o povo brasileiro assim o quer. Mas a responsabilidade cabe a cada poder. Apelo a esse Poder (o Judiciário), que reveja a ação dessa pessoa que está prejudicando o destino do Brasil”.

Que Bolsonaro faça da terça-feira apenas um festival de ameaças é o cenário otimista, no qual o ímpeto golpista do presidente será resguardado para 2022. O presidente já definiu as manifestações como uma “fotografia para o mundo”, “um recado para o Brasil e o mundo”, “nosso passaporte para mostrar para aqueles pouquíssimos que ousam brincar com os nossos direitos, falar: ‘dá um tempo aí, cara’”. Ultimatos como ele fez pressupõem que a reação da próxima vez será diferente. Em português claro: Bolsonaro está exigindo a cassação de Moraes e Barroso para não dar um golpe militar.

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Se existe um roteiro para as ações de Bolsonaro para o dia 7, a pergunta natural é “o que acontece no dia 8?”. A resposta depende de como as oposições reagirem.

Sabe-se o que não funciona:

· notas de repúdio

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· editoriais de jornais

· pedidos de impeachment e abaixo-assinados

· panelaços

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· manifestações de poucos milhares

Todas essas iniciativas foram tentadas e podem até ter desopilado o fígado de alguns, mas não produziram resultado algum. Repito: o 7 de Setembro é um ensaio para um autogolpe de Bolsonaro, cópia do que Alberto Fujimori fez no Peru. Se ele vai ocorrer ou não depende de como for o 8 de setembro.

Líder inconteste nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva faz seu jogo paralelo da realidade. Prioriza acordos partidários regionais, faz discurso apenas para a militância e trabalha como se houvesse 100% de certeza de que teremos eleições em 2022, sem levar em conta o risco institucional.

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Mais experiente político brasileiro em atividade, Lula pode estar certo e 2022 será um ano dentro das regras. Pode ser que sim, mas com Bolsonaro é mais provável que não. Assim como Ciro Gomes, João Doria e os demais pré-candidatos que fingem uma normalidade de campanha que, sejamos honestos, ninguém garante que haverá. Com o País parado temendo um golpe, o contraponto político para os candidatos se diferenciarem do bolsonarismo é falar para todos os brasileiros, e não apenas para as suas facções políticas.

Veja como as organizações oposicionistas são incapazes de montar sequer uma manifestação conjunta anti-Bolsonaro. Enquanto a esquerda vai insistir em atos no próprio dia 7, sob enorme risco de conflito, a direita prepara atos para o dia 12. Na toada atual, nenhum dos protestos chegará perto em tamanho da marcha bolsonarista.

Os líderes dos partidos sabem escrever manifestos e montar seminários, mas são incapazes de organizar suas bancadas na Câmara. Está tudo dominado pelo rei Arthur Lira, que com o controle de R$ 30 bilhões em emendas parlamentares se tornou o presidente da Câmara mais poderoso desde Ulysses Guimarães. Enquanto for vantajoso para Arthur Lira, Bolsonaro fica.

Alvo principal do ódio bolsonarista, o STF montou o último grande bloqueio ao Planalto, mas enfrenta um dilema. É impossível avançar nas investigações sobre ataques às instituições sem apurar a máquina de ódio das redes sociais montada pelo presidente e seus filhos, mas como fazer isso sem dar o pretexto que Bolsonaro precisa para cercar o STF com tanques?

O socorro ao STF é o Senado. Foi a CPI da Covid que carimbou na testa do presidente a responsabilidade pelas mortes, a demora na vacinação e esquemas de propina no Ministério da Saúde. Nas últimas semanas, quando iniciou a articulação para ser candidato a sucessor de Bolsonaro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, passou a uma postura mais ereta, em contraste à sabujice dos deputados.

Da chamada elite, não vem nada. Depois que as ameaças dos presidentes da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil fizeram tremer a Febraban e a Fiesp, os empresários viraram peças decorativas do debate. Foram decisivos na queda de Collor e de Dilma, mas dessa vez o temor de retaliações ajuda Bolsonaro.

Em condições normais, a ideia de um presidente como Jair Bolsonaro derrubando ministros do Supremo seria capaz de juntar os maiores adversários. Se as oposições não souberem, Bolsonaro sabe o que quer fazer a partir de 8 de Setembro.

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