Política Eleições 2022

DEM e PSL cogitam fusão para ganhar fôlego nas eleições de 2022

Partido de ACM Neto deve tratar do assunto em reunião da Executiva Nacional. Trava às coligações impulsiona negociações
ACM Neto, presidente nacional do DEM, e Luciano Bivar, do PSL Foto: Jorge William / Agência O Globo
ACM Neto, presidente nacional do DEM, e Luciano Bivar, do PSL Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — Na tentativa de posicionar os partidos para as eleições presidenciais de 2022, dirigentes do DEM e do PSL avançaram uma casa na rodada de negociações para a fusão entre as legendas. A expectativa é que o DEM discuta o tema com seus principais quadros em uma reunião da Executiva Nacional nas próximas semanas — dirigentes da sigla listam as vantagens dessa união a fim de convencer outras lideranças a aceitá-la.

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Com 28 deputados federais, o DEM calcula dobrar de tamanho caso se junte ao PSL, que hoje tem 53 parlamentares na Câmara. A previsão é que metade desses 53 deixe o PSL na janela aberta com a união entre as legendas. Ainda assim, o novo partido espera manter a maior bancada da Casa. Hoje, PSL e PT dividem esse posto, com 53 deputados federais cada um.

As negociações para a fusão visam a construir um partido forte, com mais recurso financeiro e tempo de televisão para as eleições presidenciais de 2022. A avaliação de dirigentes que defendem a junção é a de que o novo partido possa, inclusive, lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto. O nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que cogita trocar o DEM pelo PSD, chegou a ser defendido no PSL como opção de terceira via rumo à Presidência.

O DEM tem ainda em seu quadro o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). Primeiro titular da Saúde do governo do presidente Jair Bolsonaro, ele deixou o governo após embate com o presidente por discordar da condução das medidas de proteção para combater a pandemia de Covid 19, que já fez mais de 580 mil vítimas no país. As primeiras coletivas de imprensa conduzidas por Mandetta no início da pandemia ajudaram a popularizar seu nome como médico preocupado em impedir mortes pelo coronavírus.

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Para Mandetta, a proximidade do primeiro pleito para deputado sem coligações proporcionais — um projeto aprovado na Câmara busca reverter a mudança, mas o Senado deve manter a regra —intensificou as conversas.

— As conversas políticas existem, mas distante de ser algo que possamos cravar que vai acontecer. É uma ideia que se fortalece. Devemos conversar na Executiva após o feriado (7 de setembro). O DEM é um partido que discute muito internamente, e essa é uma conversa que precisa ser referendada.

Um dos defensores da fusão, o ex-DEM Elmar Nascimento (PSL-BA) — ele migrou para o PSL este ano para comandar o partido na Bahia — argumenta que o fim das coligações deve promover mais fusões.

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— Acho que a própria legislação atual já impõe, com o fim das coligações, diminuir a quantidade de partidos. Será a primeira de uma série de fusões que serão imperiosas. A fusão é boa para os dois partidos, que nasceria como o maior partido do Brasil, com maior fundo eleitoral e tempo de televisão. Seria o maior protagonista da próxima eleição, com candidatos ao governo em metade dos estados da federação. E liderar o processo da terceira via com quadros que já existem, como Mandetta, Datena ou Pacheco.

A união entre as legendas pode forçar a desfiliação de ministros do governo Bolsonaro que hoje estão filiados ao DEM. Líderes da sigla acreditam que o ministro de Trabalho, Onyx Lorenzoni, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, devem mudar de ares para ingressar no partido que receber Bolsonaro, que está desfiliado desde que deixou o PSL, em 2019, após uma briga com o presidente nacional da legenda, deputado Luciano Bivar (PE).

O nome que será adotado na fusão, o número que será usado na urna e as condições de quem assumirá o comando do partido não estão definidos. O desejo do PSL é que Bivar esteja à frente, com ACM Neto como vice, mas não há acordo sobre esse formato.

O movimento de fusão com o DEM não é o único que envolve o PSL, que também já discutiu a possibilidade de se unir ao PP de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Essa união, contudo, tem poucas chances de prosperar devido a resistências nos estados, sobretudo do Nordeste, onde há interesses antagônicos na eleição de 2022. Em Pernambuco, Bahia, Maranhão e Paraíba, inclusive, a tendência é que o PP faça campanha para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse é um dos motivos, inclusive, que têm inviabilizado a filiação de Jair Bolsonaro ao partido.