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Argentinos deram “drible” na Anvisa, que só conseguiu encontrá-los no estádio

Ao Metrópoles o presidente de Portos, Aeroportos e Fronteiras, Alex Machado, falou sobre a cronologia dos acontecimentos

atualizado

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Lucas Figueiredo/CBF
A seleção argentina deixou o gramado nos primeiros minutos do 1º tempo do duelo contra o Brasil
1 de 1 A seleção argentina deixou o gramado nos primeiros minutos do 1º tempo do duelo contra o Brasil - Foto: Lucas Figueiredo/CBF

O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, e o diretor de Portos, Aeroportos e Fronteiras, Alex Machado, dizem que a agência não deixou para intervir somente quando o jogo entre Brasil e Argentina já havia começado. Segundo as autoridades, a delegação argentina teria driblado os agentes da vigilância sanitária e da Polícia Federal até momentos antes do início da partida neste domingo (5/9), na Arena Corinthians, em São Paulo.

De acordo com a agência reguladora, os jogadores teriam prestado informações falsas quando entraram no território brasileiro. Ao preencher a declaração de Saúde do Viajante, documento exigido para adentrar no país, os jogadores Emiliano Martinez, Emiliano Buendia, Giovani Lo Celso e Cristian Romero omitiram que haviam passado pelo Reino Unido (país onde jogam). Portaria de junho deste ano do Ministério da Saúde determina que estrangeiros vindos do Reino Unido devem cumprir quarentena de prevenção à Covid, de 14 dias, para poder entrar no Brasil.

“Chegamos nesse ponto porque tudo aquilo que a Anvisa orientou, desde o primeiro momento, não foi cumprido. Eles [argentinos] tiveram orientação para permanecer isolados e aguardar a deportação. Mas não foi cumprido. Eles se deslocaram até o estádio, entraram em campo, há uma sequência de descumprimentos”, relatou o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em entrevista à TV Globo.

Só depois, ao verificar o passaporte dos jogadores, a agência teria constatado que eles haviam mentido na declaração. Ao Metrópoles o diretor de Portos, Aeroportos e Fronteiras – órgão subordinado à Anvisa –, Alex Machado, disse que, apesar de a constatação ter sido feita apenas às 17h da tarde de sábado (4/9), a Anvisa já tinha solicitado à vigilância sanitária estadual que recomendasse o isolamento dos atletas, por já haver uma desconfiança.

“Até quando a gente conferiu a declaração, não sabíamos que era falsa, porque eles estavam vindo de Caracas, na Venezuela. Mas aí, durante a manhã [de sábado], os nossos servidores foram dando conta. A gente foi fazer uma investigação, mas são milhares de declaração de saúde viajante, né? E essas chamaram a atenção porque alguém lá se ligou. Mas a gente não teve, naquele momento, acesso aos passaportes”, explicou Machado ao Metrópoles.

Ainda no sábado, acrescentou Machado, a vigilância de saúde de São Paulo foi notificada. “Em uma reunião às 17h [de sábado], foi dado conta que, de fato, os passaportes diziam que a informação que a gente inicialmente considerava supostamente falsa era falsa mesmo. A partir daí, determinamos a quarentena. A vigilância local já tinha determinado, pela manhã, a quarentena”, declarou.

O diretor do órgão argumenta que a delegação argentina dificultou, a todo momento, o trabalho da Anvisa. “A gente teve dificuldade de ter acesso aos vestiários. Nós íamos e estava fechado. Enfim, [eles estavam] atrapalhando e constrangendo o trabalho da agência”, disse.

Por fim, a Polícia Federal (PF) e a Anvisa notificaram os atletas argentinos, que após a suspensão da partida seguiram para o aeroporto de Guarulhos. Na próxima quinta-feira (9/9), a seleção enfrenta a Bolívia, no Monumental de Núñez, pela 10ª rodada das Eliminatórias da Copa.

Reunião no sábado não teve acordo

De acordo com a Anvisa, na tarde de sábado, a agência se reuniu com representantes da Conmebol, da CBF e da delegação argentina. Na ocasião, o órgão de vigilância sanitária brasileiro determinou a quarentena para os quatro jogadores argentinos. Não houve, contudo, acordo.

“Não teve acordo. A reunião foi para verificar os detalhes da situação. A Anvisa se posicionou dizendo que esses jogadores tinham de ficar em quarentena e que a agência ia atuar, inclusive, notificando a Polícia Federal. Foi dito isso a eles. Numa posição dessas, eles têm de  cumprir a regra brasileira”, pontuou Alex Machado.

O diretor de Portos, Aeroportos e Fronteiras ainda negou que a Anvisa tenha feito algum acordo na reunião. Segundo Machado, o órgão apenas atuou como agência de Estado, determinando que os atletas fossem colocados em quarentena.

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O que provocou a entrada em campo?

Depois de terem ignorado várias ordens das autoridades brasileiras, inclusive ter ido treinar no sábado logo após a determinação da Anvisa, os jogadores e a delegação driblaram os agentes no hotel antes do jogo e também no estádio.

“Na sequência, veio a informação de que eles foram para o treino [no sábado]. Pela manhã [de domingo], a Polícia Federal foi acionada, porque a informação era de que no dia anterior eles já não tinham cumprido a quarentena. Até aí já havia uma segunda norma sendo infringida. Nós fomos para o hotel e descobrimos que os jogadores não estavam em quarentena”, explica Machado.

O diretor de Portos, Aeroportos e Fronteiras ressaltou que a equipe da vigilância sanitária da PF chegou ao estádio mais de uma hora antes da partida entre as seleções.

“Novamente, veio a informação de descumprimento das normas. Fomos para Itaquera, para dentro do campo. Muito tempo antes do jogo, uma hora ou uma hora e 15 minutos, ou seja, com tempo suficiente de que isso não culminasse com o fim do jogo. Até porque, a ação da Anvisa não era para interromper a partida, porque nem tem essa competência, mas tinha de segregar os quatro jogadores. Essa era a missão da Anvisa”, assinala.

Machado afirma que todo o transtorno poderia ter sido evitado se as várias determinações anteriores tivessem sido acatadas. Tanto a quarentena quanto a chegada e recepção das autoridades incumbidas.

Veja abaixo uma linha do tempo do momento em que os jogadores argentinos chegaram ao país até quando a Anvisa precisou interromper o jogo entre Brasil e Argentina, na Arena Corinthians, em São Paulo:

  • Sexta-feira (3/9): a delegação da Argentina chega ao Brasil e quatro jogadores omitem na declaração de Saúde do Viajante que não passaram por Reino Unido, Irlanda do Norte, África do Sul ou Índia. Uma portaria editada pelo Ministério da Saúde em junho estipula que estrangeiros vindos desses países devem cumprir quarentena de 14 dias para poder circular pelo Brasil.
  • Sábado (4/9): a Anvisa diz que, ao desembarcarem no Brasil, os quatro jogadores não declararam ter passado por países onde há restrição (no caso, o Reino Unido). Em nota, a agência afirma que recebeu “notícias não oficiais […] dando conta de supostas declarações inverídicas prestadas por tais viajantes”. Ao confirmar que os jogadores deram informações falsas, já no sábado, a Anvisa diz ter feito reunião com representantes da Conmebol, da CBF e da delegação argentina, determinando que os atletas cumprissem a quarentena.
  • Domingo (5/9): a Anvisa aciona a Polícia Federal para que “providências no âmbito da autoridade policial fossem adotadas de imediato”. Agentes da vigilância sanitária e da PF tiveram, no entanto, as “tentativas frustradas”. Segundo a agência reguladora, houve tentativa de abordar os quatro jogadores “desde a saída da delegação do hotel em tempo considerável antes do início do jogo”. A Anvisa afirma, porém, que “teve sua atuação protelada já nas instalações do estádio”. Quando os agentes conseguiram entrar no jogo e constatar “a escalação de jogadores que descumpriram as leis brasileiras e as normas sanitárias”, tomaram a decisão de entrar no gramado e interromper a partida.

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