Organize as Contas

Por Weruska Goeking, Valor Investe — São Paulo


A pandemia de covid-19 foi devastadora para as finanças de muitas pessoas. Mas quem conseguiu se manter no emprego sem cortes substanciais de salários acabou gastando menos com itens como lazer, vestuário, alimentação fora de casa e viagens. Quem passou boa parte do último ano em home office (trabalho remoto) também gastou menos com transporte.

As incertezas de uma crise sanitária e financeira prolongada também fizeram com que famílias apertassem ainda mais os cintos com os receios de como seria o "dia de amanhã". Longe de romantizar a ideia de "um ponto positivo da crise", a ideia é ajudar quem pretende continuar com os gastos mais controlados após os momentos mais difíceis passarem para buscar novas conquistas financeiras e realizar sonhos, como comprar um carro, uma casa ou uma grande viagem. Ou até mesmo formar uma reserva de emergência mais robusta e investir mais.

Mas como gastar menos com a vida voltando ao "normal"? "A pessoa deve começar fazendo a seguinte análise: eu quero que minhas finanças sejam igual antes ou com o que aprendi dá para ser diferente?", diz Valter Police, planejador financeiro da gestora Fiduc, destacando que a missão é uma combinação do lado racional com o emocional.

"Na hora de tomar decisões a pessoa pode lembrar que talvez ela tenha aprendido que mais gasto não significa mais prazer. Preço e valor são coisas diferentes", observa Police. Parece simples, mas seu cérebro pode "te trair", já que fazer escolhas intertemporais, como trocar o prazer do gasto imediato pela satisfação do investimento para o longo prazo, não é exatamente um exercício fácil, mas é preciso e é muito importante aprender a esperar e a ter esse autocontrole, explica Paula Sauer, economista especializada em comportamento do consumidor e planejadora financeira.

Como o que é essencial para uma pessoa é algo muito particular, os planejadores financeiros evitam receitas prontas de onde, quanto e com o que gastar, mas como se organizar dentro da sua realidade. A primeira dica é fazer a boa e velha lista enumerada do que você quer e precisa comprar.

"O 'enumerada' aí, faz toda a diferença. Imagina que você anotou que iria comprar sete itens, e olha para o carrinho e nele estão contidos bem mais itens do que o planejado. Isso já te faz desacelerar o impulso de compra", explica Sauer.

A especialista conta que responder a seis perguntas básicas pode te ajudar a decidir o que fica e o que sai do carrinho (de supermercado ou virtual):

  • Quero ou preciso?
  • Como vou pagar por isso?
  • Onde vou colocar este item?
  • E se eu não comprar hoje?
  • Já tenho algo parecido?
  • E se eu fosse pagar em dinheiro vivo, ainda assim, compraria esse item?

A planejadora financeira orienta que, até que você se habitue a responder essas perguntas automaticamente, coloque-as em um bilhetinho dentro da carteira de dinheiro ou junto do cartão de crédito.

Além disso, nunca faça compras com fome. "Isso parece clichê, mas tem uma explicação lógica. Se você está com fome naquele momento, provavelmente comprará uma quantidade com o intuito de mitigar aquela sensação específica, e veja, nem sempre estamos famintos", diz Sauer.

Lembre-se que o shopping, o supermercado e os sites de compras foram desenhados por profissionais com o intuito de estimular o seu consumo e de te dar aquele empurrãozinho para comprar.

"Entre armado com a sua lista enumerada e mais, se a busca for pela internet, entre sempre através de uma janela anônima, pra não ficar recebendo milhares de ofertas dos produtos pesquisados", orienta Sauer.

Valter Police acrescenta a essas dicas a "regra das 72 horas". "Procure não comprar as coisas 'na emoção'. Se gostou de algo, vá para casa, pesquise na internet, veja outras possibilidades, negocie e pechinche", diz.

Sair da zona de conforto também faz parte da mudança na forma de pensar e comprar para conseguir gastar menos. Isso inclui sair do automático e pesquisar preços de concorrentes em supermercado, postos de gasolina e outros estabelecimentos que você já está acostumado a frequentar.

"Para tudo que você for fazer existe um jeito mais barato. Se tomar sempre a decisão pelo lado da praticidade, pode deixar um dinheiro na mesa que pode faltar depois", alerta Police. Buscar por cupons de descontos na internet e usar aplicativos e cartões que oferecem cashback ("dinheiro de volta", em tradução livre) também são opções para economizar.

Com o retorno ao trabalho presencial também bate aquela vontade de comprar roupas novas ou até mesmo uma necessidade, já que muita gente engordou durante a pandemia e perdeu algumas peças do vestuário. Mais uma vez, Police recomenda optar por peças mais baratas.

"Pense em peças 'coringa', cores neutras, que podem ser utilizadas com peças que você já tinha. Leve suas roupas antigas para passear, elas também ficaram trancadas em casa. Cuidado: moda sai de moda, não compre moda parcelado, a moda acaba e você continuará pagando as parcelas. Isso pode ser uma grande cilada", alerta Sauer, destacando que parcimônia será uma palavra importante nesse retorno ao tal do "novo normal".

"Claro que estamos há quase dois anos, nos sentindo como 'molas encolhidas' esperando o momento em que isso tudo vai acabar, mas é preciso esfriar a cabeça, não dá pra deixar a emoção tomar conta de todas as decisões", afirma a planejadora financeira.

E quem ainda está no vermelho?

Boa parte da população sequer tinha uma reserva de emergência para passar por tamanha turbulência ou os recursos acabaram antes do fim da crise e as contas ficaram no vermelho. Paula Sauer explica que, com a retomada das atividades e do trabalho, é importante mudar a relação com o dinheiro, iniciar uma poupança e criar bons hábitos financeiros.

Para começar a colocar as contas em dia, a economista afirma que a transparência junto aos credores é fundamental. "Fugir ou se esconder da dívida não resolve", diz. Por isso, ela recomenda juntar as faturas, os boletos pagos e os atrasados por credor e por data de pagamento.

"É como se fosse montar uma história. Organizar as faturas e pagamentos dessa maneira fará com que o devedor tire uma fotografia da sua situação financeira e identifique até onde foi que perdeu o controle da situação", diz.

A partir dessa "foto", a planejadora recomenda uma conversa com os credores para negociar as dívidas em atraso, checar a possibilidade de negociar o prazo para os pagamentos e até se uma garantia real, como um imóvel ou carro, pode diminuir a taxa de juros cobrada pelo banco.

Valter Police chama a atenção para a possibilidade de trocar dívidas mais caras por outras mais baratas, ou seja, com juros menores. Um empréstimo pessoal ou consignado no seu banco, por exemplo, tem taxas bem melhores do que o rotativo do cartão de crédito. Pesquise e negocie.

"Uma alternativa é verificar a possibilidade de vender algum bem para quitar ou diminuir a dívida, ou mesmo recorrer a algum familiar ou amigo de confiança para ajudar nesse momento delicado", afirma Sauer.

Com dificuldades para traçar essa estratégia sozinho? Junte os documentos e peça orientação a um profissional, que pode ser um planejador financeiro, o Procon, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) ou mesmo uma defensoria pública na sua cidade.

Para uma nova vida financeira, é preciso que novos hábitos sejam incorporados no seu dia a dia e das pessoas com quem você divide a casa e as despesas. Paula Sauer dá sete dicas:

  • Transforme um hobby em uma atividade remunerada: Já pensou que delícia ser remunerado por uma atividade que te enche de prazer?
  • O que você é muito bom? Ofereça permuta, e boa e velha troca no mercado
  • Sente com a família, ouça a todos, boas ideias podem surgir
  • Não tente carregar o mundo nas costas, todos em casa vão ter que mudar o padrão de vida juntos
  • Algumas vezes compras no atacado podem sair com o preço mais em conta, junte a família, ou vizinhos para comprar a ração dos pets por exemplo, ou material de limpeza
  • Faça uma lista do que você não abre mão, o que você não vive sem. O que não estiver nessa lista, reduza, mude ou corte. Assim, o que é importante é preservado
  • Dê uma olhada nas contas que estão em débito automático, muitas vezes pagamos por serviços que nem usamos mais, ou que podemos reduzir seu consumo até que as coisas melhorem

Depois de todos esses cuidados e as contas em dia, é hora de construir sua reserva financeira de emergência para evitar que surpresas te coloquem no vermelho novamente. Essa é uma tarefa mensal e que deve ser feita com o mesmo compromisso com que são pagos os boletos da conta de luz ou de telefone.

"Junte, mês a mês sem deixar passar um mês, um recurso que vai te permitir ter uma noite de sono tranquila caso ocorra um imprevisto. Aplique, coloque em um fundo com aplicação automática, mas crie o hábito de poupar novamente. Isso faz toda a diferença", diz Sauer.

Police lembra que conseguir investir também pode ser uma atividade prazerosa quando as pessoas conseguem vislumbrar o que poderá ser conquistado com esse dinheiro no futuro, que nem precisa estar tão longe assim.

Como driblar a tentação de aumentar os gastos no pós-pandemia — Foto: Getty Images
Como driblar a tentação de aumentar os gastos no pós-pandemia — Foto: Getty Images
Mais recente Próxima Gastos com lazer crescem 63% em um ano, aponta estudo
Mais do Valor Investe

O financiamento do governo irá para a construção das duas primeiras das quatro instalações cujo tamanho equivale a quase 40 campos de futebol

Micron terá US$ 6 bi do governo dos EUA para megafábrica de chips em Nova York

Negócio pode ser um dos maiores do setor em anos. BHP busca ampliar suas minas de cobre, componente que faz parte da bateria de carros elétricos

Maior mineradora do mundo propõe compra da Anglo American por US$ 39 bi; ação sobe 16%

Os investidores avaliam os números do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre, que surpreendeu para baixo. Por aqui, as duas empresas com maior peso na bolsa, Vale e Petrobras, estão no radar, após a mineradora publicar seu balanço e a petroleira apresentar mais um capítulo da novela dividendos

Respiiiiira 🙏 Ibovespa recua pressionado por Vale e EUA

Valores serão pagos em duas parcelas e com datas-base distintas para dividendos extraordinários

Dividendos da Petrobras (PETR4) serão pagos: quanto, quando e quem recebe?

Pagamento foi aprovado em assembleia realizada hoje; créditos serão feitos em duas parcelas

Dividendos liberados na Petrobras (PETR3; PETR4); ações reagem

Bilionário ganhou quantia após divulgar o resultado do 1º trimestre da Tesla: projeções animaram investidores, e ação saltou 12% no pregão de ontem, maior alta em mais de dois anos

Musk ganha US$ 12,5 bilhões em um dia e ocupa lugar de Zuckerberg em lista de bilionários

Veja, abaixo, os pontos positivos e negativos do balanço divulgado na noite de quarta-feira (24), e as recomendações para os ativos após os dados

Mesmo com resultados sólidos no 1º tri, Assaí (ASAI3) tem dia triste na bolsa

Hoje, os indicadores dos Estados Unidos, inflação e PIB, reforçaram a leitura de que a resiliência da economia americana exige juros altos por um período ainda mais longo

Tesouro Direto: título mais curto atrelado à inflação chega a pagar 6,19%

Serviço tinha sido suspenso temporariamente após suspeita de invasão ao sistema

Polícia Federal retoma agendamento de passaporte pela internet

O índice Stoxx 600 caiu 0,64%. O Dax de Frankfurt recuou 0,95%; e o Cac 40, de Paris, caiu 0,93%. Por sua vez, o FTSE da Bolsa de Londres, teve alta de 0,46%

Bolsas da Europa fecham no vermelho com foco em balanços e EUA; Londres é exceção