Saúde Vacina

Impasse sobre terceira dose da CoronaVac em idosos faz cidades suspenderem aplicação de vacina por uma semana

Ao menos oito municípios dizem que vão aguardar chegada da Pfizer até dia 15; se cronograma atrasar, imunizante do Butantan deve ser utilizado
CoronaVac foi responsável por iniciar a vacinação contra Covid-19 no Brasil e protegeu os grupos mais vulneráveis do país contra a infecção ao longo dos meses iniciais do ano Foto: Pilar Olivares / Reuters
CoronaVac foi responsável por iniciar a vacinação contra Covid-19 no Brasil e protegeu os grupos mais vulneráveis do país contra a infecção ao longo dos meses iniciais do ano Foto: Pilar Olivares / Reuters

SÃO PAULO — O impasse entre o Ministério da Saúde e o governo de São Paulo a respeito do uso da CoronaVac como terceira dose para os idosos fez ao menos oito cidades do estado suspenderem a vacinação até 15 de setembro, quando está programada a entrega de imunizantes da Pfizer.

O Ministério da Saúde excluiu a CoronaVac do plano de reforço sob a justificativa de que o imunizante pode produzir maior resposta imune se combinado com uma terceira dose de outra tecnologia, de preferência a Pfizer, que usa o princípio do RNA mensageiro.

Vacina : Especialistas defendem que CoronaVac seja a última opção para terceira dose em idosos e imunossuprimidos

A recomendação da pasta, porém, vai de encontro com as orientações do próprio estado de São Paulo, que tem defendido a CoronaVac para o reforço. No primeiro dia de aplicação da terceira dose em São Paulo, na última segunda-feira, 99,2% das imunizações foram com a CoronaVac, segundo o governo do estado.

De acordo com especialistas da área da saúde, embora a CoronaVac ajude a prevenir formas graves e óbitos por Covid-19, ela não seria a melhor opção para o reforço na população idosa. Isso porque nesse grupo em que o sistema imune também envelhece é mais difícil alcançar uma maior resposta imunológica. Por isso, defendem, o ideal seria oferecer a vacina que mais produz anticorpos

Em decisão colegiada na última quarta-feira, os municípios de Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Embu Guaçu, Cotia e Vargem Grande Paulista definiram que a aplicação da terceira dose contra a Covid-19 ficará suspensa até o dia 15 de setembro. Caso o ministério da Saúde não entregue os imunizantes previstos, os municípios vão seguir a orientação do governo de São Paulo e usar a Coronavac.

Na cúpula do Brics : Após críticas à Coronavac, Bolsonaro elogia parceria com a China para a produção de vacinas

Ao GLOBO, o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos (Republicanos), disse que o consenso foi definido em uma reunião extraordinária dos secretários de saúde dos oito municípios junto com os representantes da vigilância epidemiológica do Estado. O encontro foi pautado pelas próprias cidades, após o estado informar que qualquer imunizante poderia ser utilizado, mas encaminhar apenas a CoronaVac. Segundo Ney, o impasse entre governo estadual e federal preocupa os prefeitos e acaba prejudicando a população:

— Para nós, prefeitos, essa situação é muito ruim, até porque nós estávamos com a expectativa de acabar o quanto antes a vacinação. Quando veio essa decisão do Ministério da Saúde referente à CoronaVac, foi um banho de água fria para todos nós. Ficamos preocupados justamente por conta dessas discussões que andam tendo entre governo estadual e federal. Quem acaba pagando um preço caro com tudo isso é a população. Espero que esse impasse se resolva o quanto antes e a gente retome também a imunização de toda a população — afirmou ele.

Em nota, a prefeitura de Taboão da Serra também disse que a decisão de não realizar a aplicação da terceira dose foi tomada após "impasse" entre o Ministério da Saúde e o governo do Estado de São Paulo sobre qual imunizante pode ser utilizado. Já a prefeitura de Cotia informou que segue aguardando deliberação do Estado e do Ministério da Saúde sobre qual imunizante será utilizado, bem como o recebimento das doses que serão utilizadas nesta fase da campanha. "Cotia aguardará a deliberação do Estado e União até o dia 15 de setembro, se até lá não houver definição/acordo entre eles, o município inicia a terceira dose com CoronaVac", diz a nota.

Em nota, o governo de São Paulo informou que os oito municípios têm, juntos, cerca de 4 mil doses de vacinas contra a Covid-19 "paradas" e que já poderiam estar em uso para a aplicação, conforme recomendação do Comitê Científico de São Paulo.

"Estas doses foram entregues na sexta-feira (3) e poderiam estar em uso de segunda-feira (6). Infelizmente, estas cidades optaram por ignorar a orientação do PEI (Plano Estadual de Imunização), que é clara e indica a adoção de todos os imunizantes em uso na rede pública de saúde para a aplicação da dose adicional, visto que todos são seguros e eficazes. A medida foi avaliada e aprovada pelo Comitê Científico, conforme reforçado hoje em coletiva (8) com a presença de seus integrantes", diz a nota.