BUDAPESTE — Na sua primeira viagem internacional após uma cirurgia no intestino , em julho, o Papa Francisco utilizou uma rápida visita a Budapeste para pedir aos bispos húngaros que abracem a diversidade, em uma mensagem ao primeiro-ministro Viktor Orbán, um nacionalista de direita que tem adotado medidas que restringem os direitos da comunidade LGBTQIAP+ do país em nome do que chama de "valores cristãos".
Em uma missa para dezenas de milhares de pessoas, no encerramento de uma conferência internacional sobre a eucaristia, Francisco disse que Deus não é alguém que silencia inimigos e que as raízes religiosas, mesmo que vitais para um país, também permitem abrir os braços e estendê-los "a todos".
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A viagem do chefe da Igreja Católica à Hungria durou apenas sete horas, numa escala da visita de quatro dias que ele fará à vizinha Eslováquia.
A menos de um ano para as eleições gerais de 2022 na Hungria, Orbán vem se retratando como um defensor da Europa cristã e aumentando suas conexões com tradicionalistas da Igreja Católica, muitos dos quais são críticos de Francisco. O encontro entre o Papa e o premier durou cerca de 40 minutos e teve a presença do presidente húngaro Janos Ader e de outras autoridades.
O premier húngaro tentou aproveitar politicamente a visita, publicando fotos cumprimentando Francisco nas suas redes sociais e escrevendo que pediu ao Papa "que não permitisse que a Hungria cristã morresse". A questão da imigração, tema em relação ao qual Orbán adota uma linha dura, aparentemente não surgiu na reunião, segundo o Vaticano. No entanto, Francisco abordou a questão em seu encontro seguinte com um grupo de bispos húngaros.
— Seu país é um lugar onde pessoas de outros povos vivem juntas há muito tempo — disse ele. — Várias etnias, minorias, religiões e imigrantes também transformaram este país em um ambiente multicultural.
Francisco disse que, no início, “a diversidade sempre causa algum medo porque põe em risco a segurança adquirida e perturba a estabilidade alcançada”, mas acrescentou que ela também é uma grande oportunidade de alcançar a fraternidade.
— Diante da diversidade cultural, étnica, política e religiosa, podemos ter duas reações: fechar-nos em uma defesa rígida de nossa chamada identidade, ou abrir-nos para encontrar o outro e cultivar juntos o sonho de uma sociedade fraterna — afirmou Francisco.
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Parte do sucesso eleitoral de Orbán, que governa desde 2010, se deve a sua linha dura contra a imigração. Em uma conferência internacional na Eslovênia na semana passada, ele disse que os imigrantes de hoje "são todos muçulmanos" e que apenas "a política familiar cristã tradicional pode nos ajudar [referindo-se à Europa] a sair dessa crise demográfica".
Francisco, por outro lado, muitas vezes criticou o que vê como um ressurgimento de movimentos nacionalistas e populistas, apelou à unidade europeia e criticou os países que tentam resolver a crise migratória com ações unilaterais ou isolacionistas.
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Orbán, no entanto, viu a agenda da imigração recuar nos últimos meses e voltou suas atenções às questões ligadas a gênero e sexualidade . Ele tem se tornado cada vez mais radical na política adotada contra os direitos das pessoas LGBTQIAP+, no que diz ser uma luta para salvaguardar os valores cristãos tradicionais da influência do esquerdismo ocidental. Em julho, o Parlamento húngaro aprovou uma lei que proíbe a divulgação em propaganda e nas escolas de conteúdos que supostamente promoveriam a pornografia, a homossexualidade e a mudança de gênero.
A nova Constituição húngara, aprovada em 2011 já com o Parlamento sob controle do Fidesz — partido liderado por Órban — define o casamento como a união entre um homem e uma mulher, e abriu margem para a proibição do casamento gay e outras restrições aos direitos LGBT+.
Neste domingo, a mídia húngara, que é muito influenciada por Orbán, afirmou que o premier deu a Francisco uma cópia de uma carta enviada por um rei húngaro do século XIII ao Papa na época. No documento, o rei reclamou que os apelos à Igreja por ajuda contra uma invasão dos exércitos mongóis resultaram apenas em palavras vazias.