Política

TCU suspende auditor que fez relatório usado por Bolsonaro para contestar mortes por Covid-19

Documento extraoficial foi utilizado para colocar em dúvida estatísticas de óbitos na pandemia
Alexandre Marques, auditor afastado do TCU, presta depoimento à CPI da Covid Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
Alexandre Marques, auditor afastado do TCU, presta depoimento à CPI da Covid Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo

BRASÍLIA — O auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, acusado de ser o autor de um documento paralelo que colocava em dúvida o número de mortes por Covid-19 no Brasil, foi afastado por 45 dias pelo Tribunal de Contas da União. A decisão foi publicada em diário oficial interno do órgão.

O documento ganhou relevância após ser utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro, que chegou a atribuir o material ao TCU. O tribunal, entretanto, negou a autoria do documento e apontou que o relatório era uma "análise pessoal" do auditor.

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No material, Marques questiona o número de mortes por Covid-19 em 2020.  Em um arquivo de apenas duas páginas, o documento diz, considerando o crescimento médio no número de óbitos registrado ano a ano, as mortes por Covid-19 em 2020 poderiam ter sido 80 mil e não 195 mil.

"Os outros 115 mil óbitos apontados como consequências da pandemia podem ter, na verdade, outras causas mortis, ainda que eventualmente os de cujus fossem portadores da Covid-19 quando do seu falecimento”, diz um trecho do documento", escreveu Alexandre.

Em razão de sua participação, Alexandre chegou a prestar depoimento na CPI da Covid.

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Com a decisão, além da suspensão de 45 dias, Marques também adiciona uma punição à sua ficha funcional e, em caso de reincidência, poderá ser demitido.

Em razão da relevância do tema, o TCU agiu rapidamente. O episódio ocorreu em junho deste ano e, em três meses, o auditor foi julgado e advertido.

Ao ser afastado por 45 dias, o auditor foi apontado por ter infringido alguma das regras que servidores públicos devem obedecer. No processo disciplinar a que foi alvo, o TCU considerou que Marques manteve conduta incompatível com a moralidade administrativa e não guardou sigilo sobre assunto interno.

Esta não é a primeira vez que Alexandre chama atenção. Em 2019, ele foi indicado pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, para ocupar uma diretoria do banco. Montezano é amigo de filhos do presidente Jair Bolsonaro. A indicação, porém, não se concretizou porque os ministros barraram a liberação do auditor para o banco. Havia o temor de que sua atuação configurasse um conflito de interesse. O BNDES é um dos órgãos auditados pelo TCU.