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Eleição na Alemanha marca fortalecimento dos Verdes e vê extrema direita perder espaço no Parlamento

Lideranças verdes, que chegaram a pensar em uma vitória há alguns meses, reconheceram erros na campanha, mas serão decisivos para formação de novo Gabinete
Líder dos Verdes, Annalena Baerbock, durante programa de debates na TV alemã neste domingo, depois do fechamento das urnas Foto: SEBASTIAN GOLLNOW / AFP
Líder dos Verdes, Annalena Baerbock, durante programa de debates na TV alemã neste domingo, depois do fechamento das urnas Foto: SEBASTIAN GOLLNOW / AFP

BERLIM — As eleições gerais na Alemanha, que segundo projeções foram vencidas pelo Partido Social-Democrata (SPD) mas cujo desfecho segue em aberto, marcaram o melhor resultado do partido Os Verdes, segundo as projeções, colocando a legenda ambientalista como terceira força no Parlamento. Com isso, a sigla deve ser decisiva nas negociações para um novo governo.

Pelas projeções, os verdes receberam 14,6% dos votos, ficando à frente dos liberais do Partido Democrático Liberal (FDP) e da Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita. Apesar de marcar um avanço em relação a eleições passadas e confirmar o papel do meio ambiente na discussão política na Alemanha, o resultado ficou aquém do esperado.

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Durante boa parte da campanha, o partido rivalizou com a União Democrata Cristã (CDU), de Angela Merkel, e chegou a liderar as pesquisas no primeiro semestre do ano, levantando a possibilidade de a líder dos Verdes, Annalena Baerbock, se tornar a nova chanceler. Mas uma série de erros cometidos ao longo dos últimos meses, especialmente por Baerbock e seus assessores, acabou com as esperanças de comandar uma coalizão, e os Verdes passaram a reconhecer que seriam coadjuvantes nos próximos anos.

— Queríamos mais. Não conseguimos isso em parte por causa dos erros cometidos no começo da campanha, erros que eu cometi — afirmou Baerbock, depois do fechamento das urnas.

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Mesmo assim, a líder dos Verdes, que rejeitou renunciar ao posto de liderança do partido por causa dos erros mencionados por ela no discurso, vê o resultado como positivo, e aponta para vitórias pontuais, como em Berlim, e para a posição confortável entre os eleitores mais jovens.

— Fomos eleitos por muitas pessoas jovens neste país. Entre eles, nós somos a força líder — declarou Baerbock.

Há ainda outro ponto crucial no resultado dos Verdes neste domingo: de acordo com analistas, o partido será crucial para a formação de um novo Gabinete. A hipótese mais provável é a conhecida como “semáforo”, com o governo encabeçado pela SPD, com os Verdes e o FDP como partidos aliados, na primeira coalizão composta por três partidos desde os anos 1950.

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Apesar das diferenças, o FDP já se disse disposto a governar a Alemanha ao lado dos Verdes, seja ao lado do SPD, seja ao lado da CDU, em uma coalizão apelidada de Jamaica, mas vista como menos provável.

— O que une os Verdes e o FDP é que os dois conduziram campanhas independentes, os dois se opuseram, de perspectivas diferentes, ao status quo da atual coalizão [entre SPD e CDU] — declarou o líder do FDP, Christian Lindner. — Por isso não pode mais haver um “mais do mesmo” na Alemanha. Agora é hora de um novo começo.

Outro destaque da eleição deste domingo foi o desempenho da AfD . Quatro anos depois de surpreender o meio político alemão e se consolidar como terceira força no Parlamento, a sigla perdeu gás, e agora terá a quinta maior bancada da Casa, com projetados 11,5% dos votos, com os melhores números na Turíngia e Saxônia, onde ficou à frente do SPD. O resultado se deve em boa parte a disputas internas, que dividiram a sigla e afastaram eleitores conservadores mais moderados.

Além disso, algumas de suas bandeiras principais,como a imigração, perderam espaço para temas como o meio ambiente e a pandemia do novo coronavírus, quando posturas negacionistas do partido foram criticadas pela população.