RIO — A morte súbita, que acometeu o modelo Tales Cotta, no último sábado na SPFW , consiste em um colapso da circulação sanguínea com parada cardíaca e perda repentina de consciência. Usualmente ocorre em pessoas com doenças cardíacas prévias — mesmo que aparentemente saudáveis, sem sintomas.
A principal causa do mal súbito é a arritmia, que consiste em uma frequência irregular, podendo ser acelerada ou muito lenta. Porém, essa perda de consciência pode ser a manifestação de outros quadros, como o AVC, infarto, arritmias cardíacas ou aneurismas. No caso do modelo da SPFW, a suspeita é de que esteja relacionada a problemas cardiovasculares, mas a causa será confirmada após laudo médico. O documento deve ficar pronto entre 60 e 90 dias.
O presidente do Departamento de Arritmias, Estimulação Cardíaca e Eletrofisiologia da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Eduardo Benchimol Saad, explica como ocorre o problema.
— Durante a arritmia, o coração fica tão descoordenado que não consegue bombear o sangue, com isso, há uma parada na circulação e nos segundos em que o cérebro fica sem oxigenação, pode ocorrer a morte — diz Saad, que coordena o Departamento de Cardiologia dos hospitais Pró-Cardíaco e Samaritano, no Rio de Janeiro.
Um possível salvamento precisaria acontecer dentro de até quatro minutos, segundo ele, com o auxílio de um desfibrilador para que seja estimulada a reativação do funcionamento do músculo.
— A maneira de reverter essa fibrilação ventricular para reaver a circulação é através de um desfibrilador. O aparelho irá dar um choque para reanimar o coração de modo que ele possa voltar a bombear sangue para o cérebro — diz o cardiologista.
Como evitar o mal súbito?
Segundo o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 30,4% de mortes no Brasil em 2011. A prevenção se dá principalmente através da detecção de fatores predisponentes para arritmia cardíaca, que consiste em frequência irregular do coração.
O cardiologista, que também é membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) e da Heart Rhythm Society, dos Estados Unidos, alerta que a realização de exames e o acompanhamento médico são essenciais. Além disso, hábitos de alimentação saudável e realização de atividades físicas podem prevenir complicações médicas.
Existem fatores que aumentam o risco de ter uma morte súbita e, segundo Saad, a ocorrência genética é um deles.
— Em 90% dos casos, a arritmia cardíaca é a responsável pelo mal súbito. Se alguém na família teve, as chances aumentam. Muitas vezes a pessoa tem uma doença e não sabe — afirma — Se teve um desmaio inesperado, por exemplo, é muito importante que isso seja investigado.
Dentre as doenças no coração que pressupõem morte súbita e podem acometer pessoas mais jovens está a miocardiopatia hipertrófica (doença genética que leva uma grande hipertrofia do músculo cardíaco) e doença de chagas, que provoca a dilatação do coração.
Quando a tecnologia salva vidas
Em casos de pessoas que são diagnosticadas com doenças cardíacas, é possível recorrer ao uso de um cardioversor desfibrilador implantável (CDI). O aparelho é composto por um gerador com bateria de longa duração, monitora e trata alterações graves do ritmo do coração que podem provocar uma parada cardíaca. A tecnologia pode proporcionar continuidade de atividades físicas até mesmo de atletas que tenham tido problemas cardiovasculares.
— Se é sabido que determinado paciente tem doença cardíaca propensa a mal súbito, ele pode ser protegido através de um cardioversor desfibrilador implantável. O aparelho é implantado como um marca-passo e é programado de acordo com as necessidades individuais — comenta.
O médico explica que o aparelho funciona como um eletrocardiograma em tempo real e, ao perceber uma instabilidade, o aparelho dá um choque no corpo para retomar a circulação do sangue no corpo.
— A chance de um aparelho deste salvar a vida da pessoa é muito alta. Sua eficácia está na agilidade. O tempo é vida, você tem dois ou três minutos para a salvar a pessoa. Quanto mais rápido, melhor — afirma.
De acordo com o especialista, o equipamento está disponível no sistema público de saúde e é usado em larga escala em pacientes cardíacos.