Política

PF faz operação na sede da Precisa, a pedido da CPI da Covid

Comissão quer acesso aos contratos da empresa com a farmacêutica Bharat Biontech, que não foram fornecidos
Polícia Federal cumpriu mandados na sede da Precisa Medicamentos Foto: Reprodução TV Globo
Polícia Federal cumpriu mandados na sede da Precisa Medicamentos Foto: Reprodução TV Globo

RIO E BRASÍLIA —  A Polícia Federal (PF) cumpriu na manhã desta sexta-feira mandados de busca e apreensão na sede da Precisa Medicamentos, em São Paulo. A empresa é alvo da CPI da Covid por ter intermediado a aquisição de doses da Covaxin entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica Bharat Biotech. O contrato foi anulado após as denúncias de irregularidades virem à tona. A operação mira endereços em Barueri e em Itapevi, em escritórios da empresa e locais de armazenamento de distribuição de produtos. Os mandados foram solicitados pela cúpula da CPI da Covid e autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. A empresa nega irregularidades e, em nota, afirmou que a operação é 'inadmissível' .

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Ao GLOBO, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que a operação foi necessária porque a empresa não forneceu acesso ao acordo com a Bharat Biotech , da Índia. A CPI chegou a pedir busca e apreensão também no Ministério da Saúde, o que foi negado.

— Essa operação é para ver se conseguimos ter acesso ao contrato da Bharat Biotech com a Precisa, ao qual não tivemos acesso. É para realmente ver qual tipo de contrato foi feito, porque até hoje é um segredo que ninguém consegue saber. A CPI também pediu busca no Ministério da Saúde, mas foi negado — disse Aziz.

Em seu perfil no Twitter, o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), informou ainda que a operação destina-se à apreensão de informações relativas ao contrato entre a Precisa e a Bharat Biotech , assim como todos os documentos relacionados ao contrato.

"A CPI tentou de todas as formas obter essas informações e não logrou êxito. Fez-se necessário, para prosseguimento das apurações, a utilização deste instrumento judicial", escreveu o parlamentar.

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A operação foi autorizada pelo ministro do STF Dias Toffoli. Na decisão, ele  considerou que há necessidade de esclarecer as circunstâncias “que envolveram a escolha do imunizante Covaxin, em detrimento de outros, como o da Pfizer”. O ministro do STF chamou atenção ainda para a divergência entre preços informados pela empresa à CPI da Covid, de US$ 15 a dose, e de um registro de reunião com o Ministério da Saúde, que informava um custo de US$ 10. Toffoli afirmou na decisão que “não há razão para tamanha discrepância”.

“Há um cenário de inconsistências, evidenciadas tanto pela contradição (entre depoimento e o registro de ato de reunião) nos valores que seriam pagos pela dose do imunizante como pelo fato incontroverso de a Covaxin estar em estágio anterior de comprovação científica de segurança e de eficácia”, escreveu o ministro.

A Precisa Medicamentos entrou na mira da CPI da Covid por ter intermediado a compra de doses da Covaxin entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica Bharat Biotech. A comissão quer saber como a representante, alvo de inquéritos do Ministério Público, lucrou com a transação avaliada em R$ 1,6 bilhão para fornecer 20 milhões de imunizantes.

A compra do imunizante indiano é uma das principais linhas de investigação da CPI. Como mostrou o GLOBO, o Ministério Público Federal (MPF) já identificou indícios de crime na compra das 20 milhões de doses feita pela pasta, e pediu que o caso seja investigado na esfera criminal.

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Em depoimento à Polícia Federal, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias admitiu que "não é comum" a pasta efetuar pagamento a empresas que não constam de contratos. Dias classificou ainda como "atípico" o processo de importação da vacina Covaxin pelo governo federal, intermediado pela Precisa e que indicava uma empresa sediada em Cingapura, fora do acordo, para receber recursos públicos.

Segundo um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, o diretor institucional da Precisa Medicamentos, Danilo Trento, fez movimentações de valores incompatíveis com o seu faturamento mensal e de sua empresa, chegando a receber R$ 2 milhões mensais.