Por Camila Rodrigues da Silva, Roney Domingos, Thiago Reis, Gisele Barros e Marcelo Parreira, g1, O Globo e TV Globo


Bolsonaro durante discurso na ONU — Foto: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso nesta terça (21) na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

Ele falou sobre economia, atos no 7 de Setembro e vacinas contra a Covid-19.

A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações dadas por Bolsonaro. Leia:

"Na economia, temos um dos melhores desempenhos entre os emergentes"

— Foto: G1

A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Em 2020, segundo o relatório "World Economic Outlook", publicado pelo FMI em julho, o Brasil viu sua economia encolher 4,1% - pior do que a média mundial, de 3,2%, e do que a média das economias emergentes, de 2,1%. A economia brasileira foi menos impactada do que a da África do Sul (-7%), da Índia (-7,3%) e do México (-8,3%), mas Rússia (-3%), Nigéria (-1,8%) e China (crescimento de 2,3%) tiveram desempenhos muito melhores no ano passado.

O desempenho durante este ano também decepciona, com uma queda de 0,1% no PIB no segundo trimestre deste ano. Isto colocou o país na 38ª posição em um ranking produzido pela Austin Rating com as 48 maiores economias do mundo - atrás de todas as economias emergentes.

A situação prevista pelo FMI, aliás, é a de que o Brasil fique ainda mais atrás a partir deste ano. Isto porque a projeção da entidade para o crescimento da economia brasileira neste ano é de 5,3% - à frente de Nigéria (2,5%), África do Sul (4%) e Rússia (4,4%), mas atrás de México (6,3%), China (8,1%) e Índia (9,5%).

Já para 2022, o FMI projeta que o Brasil tenha o menor crescimento entre todos os emergentes, de apenas 1,9%.

"No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história"

— Foto: G1

A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Os atos de 7 de Setembro não foram os maiores já registrados no país. Apesar de não haver um balanço nacional, as imagens registradas no dia revelam uma manifestação muito menor que as registradas contra a presidente Dilma Rousseff, por exemplo.

Basta pegar a cidade mais populosa do país (São Paulo) para ver que a frase não se sustenta. No 7 de Setembro, Bolsonaro reuniu na Avenida Paulista 125 mil pessoas, segundo estimativa da PM.

Em 1984, no famoso comício do movimento Diretas Já, 1,5 milhão de pessoas se reuniram no Vale do Anhangabaú para pedir eleições para presidente no Brasil.

Levando em conta os dados públicos disponíveis, o maior ato político já registrado no Brasil ocorreu em março de 2016, quando manifestantes foram às ruas em mais de 300 cidades para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Houve, segundo a polícia, 3,6 milhões de pessoas no protesto. Para os organizadores, foram 6,8 milhões.

Também não é possível afirmar que “milhões” participaram dos protestos no 7 de Setembro. Levantamento feito pelo G1 mostra que apenas sete estados têm estimativas de público. E o total não ultrapassa os 400 mil manifestantes.

“[A agricultura] utiliza apenas 8% do território nacional”

— Foto: G1

A declaração é #FATO. Veja o porquê: O mais recente relatório do Monitoramento da Cobertura da Terra divulgado pelo IBGE aponta que a área agrícola do Brasil ocupa 664.784 km², o equivalente a 7,6% do território nacional, considerando as parcelas terrestre e marítima do país. O número é de 2018 e foi divulgado em 2020.

Apesar disso, dados da Embrapa mostram que mais de 20% do território do país é destinado ao uso agropecuário - seja com pastagens nativas seja com pastagens plantadas, uma das principais fontes de desmatamento.

"Nosso Banco de Desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas sem garantias. Quem honra esses compromissos é o próprio povo brasileiro"

— Foto: G1

A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Desde 1998, o BNDES financiou empreendimentos brasileiros em pelo menos 15 países da África e da América Latina, incluindo Venezuela, Cuba, Argentina, Angola e Moçambique. Nenhum destes empréstimos, no entanto, foi feito sem garantias.

Segundo as informações do banco, foram desembolsados US$ 10,49 bilhões pelo banco nesta linha de financiamento, e os países pagaram US$ 12,445 bilhões até junho. E o BNDES ainda tem US$ 1,29 bi para receber dos países.

Três dos países que tiveram empreendimentos financiados pelo banco ficaram devendo parcelas que foram cobertas pelo Fundo Garantidor de Exportações (FGE): Cuba, Moçambique e Venezuela.

O FGE, criado em 1997, é gerido pelo BNDES, mas parte de sua receita é proveniente do Seguro de Crédito à Exportação (SCE) - além de aplicações financeiras dos ativos do próprio fundo. Esse seguro é concedido pelo governo brasileiro para as exportações nacionais e cobre os riscos comerciais, políticos e extraordinários de exportadores e financiadores de exportadores.

Como em um seguro convencional, os exportadores segurados pagam um prêmio e, no caso de não pagamento do importador de outro país (o popular “calote”), os segurados recebem indenização do governo brasileiro, ou seja, os desembolsos do FGE.

Os principais países destino de exportações seguradas pelo SCE são latino-americanos, africanos e, no caso dos EUA, importadores privados de aeronaves da Embraer.

“Até o momento, o governo federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam, pelo menos, a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta”

— Foto: G1

A declaração é #FATO. Veja o porquê: De fato, 263 milhões de doses já foram recebidas pelos estados e 142 milhões de pessoas foram imunizadas com pelo menos uma dose das vacinas disponíveis, segundo o consórcio de veículos de imprensa.

Isso representa 87,7% da população com mais de 18 anos. Mais da metade da população adulta está totalmente imunizada. Considerando todos os brasileiros, 66,6% receberam ao menos uma dose das vacinas, e 38,1% foram totalmente imunizados (com duas doses ou a dose única).

“As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial nos gêneros alimentícios no mundo todo”

— Foto: G1

A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Os três elementos que mais têm empurrado a inflação para cima nos últimos meses são os combustíveis, os alimentos e a energia elétrica. Segundo especialistas, a causa do aumento de nenhum deles está relacionada ao isolamento social.

  • Combustíveis: O preço dos combustíveis no Brasil segue o comportamento dos preços no exterior. Desde 2016, a Petrobras se orienta pelo Preço de Paridade Internacional (PPI), que leva em consideração a cotação do barril de petróleo e o câmbio - os dois fatores que explicam boa parte do aumento dos combustíveis nos últimos meses. O preço do barril de petróleo vem em uma sequência de alta forte desde o início deste ano. De um lado, por conta da maior demanda, depois da abertura de muitos países que começaram a vacinar contra a Covid. De outro, por conta da própria dinâmica da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep): ela concentra cerca de 40% da produção global da commodity e às vezes segura os estoques para valorizar o barril. Em julho, a organização comunicou que voltaria a ampliar gradativamente a oferta, dado o crescimento expressivo dos preços neste ano. Como a cotação é feita na moeda americana, o dólar também tem impacto direto — e o real segue perdendo valor.
  • Alimentos: exemplo dado por Bolsonaro em seu discurso, a inflação de alimentos está sendo influenciada principalmente pelo dólar, e com um duplo efeito. Como as commodities agrícolas — milho, açúcar, carne, café, trigo, laranja — são cotadas em dólar, sempre que o câmbio sobe, o preço delas em real tende a subir também. Em paralelo, o dólar alto incentiva o produtor a exportar em vez de vender para o mercado interno. Isso reduz a oferta doméstica e, consequentemente, ajuda a empurrar os preços para cima. Aos dois fatores se soma um outro que tem contribuído para reduzir a disponibilidade interna de alimentos: a seca histórica que afetou o Sudeste e o Centro-Oeste e impactou a cultura do café, da laranja, do milho, da soja e do açúcar.
  • Energia elétrica: além dos alimentos, a seca também ajuda a explicar o aumento da energia elétrica. Com a redução dos níveis dos reservatórios em hidrelétricas importantes neste ano, foi preciso acionar usinas termelétricas, movidas a gás natural, óleo diesel, biomassa e carvão, para compensar a redução da oferta pelas hidrelétricas e, mais recentemente, importar energia de vizinhos como Argentina e Uruguai. A energia termelétrica não só é apenas mais poluente, mas também mais cara. Por isso, a conta de energia está vindo com um adicional, a bandeira da escassez hídrica, anunciada pelo governo no último dia 31 de agosto. Em paralelo, a situação crítica dos reservatórios acendeu um debate sobre os riscos de apagão e de racionamento — e a demora do governo para reagir. Desde maio, quando o cenário de restrição de chuvas começou a ficar mais claro, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tem repetido que não existe possibilidade de apagões e racionamento no país. No fim de agosto, quando anunciou a bandeira mais cara, o governo lançou um programa para redução voluntária do consumo de energia.

“Somente nos primeiros 7 meses deste ano, criamos aproximadamente 1 milhão e 800 mil novos empregos”

— Foto: G1

A declaração é #FATO. Veja o porquê: Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Brasil acumula de janeiro a julho deste ano 1.848.304 empregos criados. O saldo é referente ao número de contratações (11.255.025) menos o total de demissões (9.406.721).

“Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal. E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer”

Selo fake — Foto: G1

A declaração é #FAKE. Veja o porquê: O orçamento destinado ao Ministério do Meio Ambiente em 2021 foi menor que o autorizado e executado em 2020 - que por sua vez já havia sido menor que o de 2019.

Já o projeto de lei orçamentária para o próximo ano enviado ao Congresso Nacional prevê um valor nominal 77% maior do que o estabelecido no orçamento deste ano, mas o projeto ainda não foi votado pelo Legislativo.

Segundo o portal Siga Brasil, a dotação orçamentária para o Ministério do Meio Ambiente em 2021 foi de R$ 1,854 bilhão, 36% menor do que os R$ 2,917 bilhões previstos em 2020 e praticamente metade dos R$ 3,805 bilhões do orçamento de 2019. Os valores estão corrigidos pela inflação para o período. Para 2022, a proposta enviada pelo governo ao Congresso prevê um orçamento de R$ 3,128 bilhões para a pasta. Se comparado ao valor corrigido para 2021, o orçamento do MMA no ano que vem pretendido pelo governo não chega ao dobro. E este ainda é o valor provisório, proposto ao Legislativo e que deve ser alterado pelos parlamentares.

Ou seja, a frase não se sustenta, já que não houve nenhum resultado decorrente de algo que nem sequer aconteceu ainda. Pelo contrário.

É importante lembrar ainda que os valores previstos nas leis orçamentárias não necessariamente se concretizam. Em 2020, por exemplo, as despesas efetivamente realizadas foram de 87% do autorizado e, em 2019, este índice foi de apenas 71%.

Dias antes da frase proferida por Bolsonaro, aliás, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fez um alerta de que a verba para monitorar o Cerrado vai durar até o mês de dezembro apenas e, a três meses do fim do prazo, não há garantia de que o serviço terá continuidade. O bioma já perdeu 50% da vegetação original e pesquisadoras alertam para o aumento do desmate e do fogo.

Fato ou Fake — Foto: G1

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