Política Eleições 2022

DEM e PSL formalizam fusão para criar maior partido da Câmara, União Brasil, que mexe nas eleições estaduais

Após meses de negociações, dirigentes se reuniram hoje para formação do União Brasil. Sigla pode ter 12 nomes na disputa nos governos estaduais
DEM e PSL formalizam fusão para criar maior partido da Câmara, União Brasil Foto: Divulgação
DEM e PSL formalizam fusão para criar maior partido da Câmara, União Brasil Foto: Divulgação

BRASÍLIA — As executivas do DEM e do PSL aprovaram nesta quarta-feira a fusão para a criação do partido União Brasil, que ainda precisa ser aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A nova sigla tende a ter a maior bancada da Câmara dos Deputados, além do acesso à maior fatia do fundo partidário. O União Brasil já nasce com poder de alterar o xadrez eleitoral para as disputas estaduais de 2022, com até 12 nomes nas disputas estaduais.

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Conforme os cálculos do vice-presidente do PSL, Antônio Rueda, o partido nasce com 83 deputados, 8 senadores e 4 governadores. Apesar do número elevado, a sigla deve sofrer baixas de parlamentares, sobretudo entre os mais alinhados ao presidente Jair Bolsonaro. O deputado Eduardo Bolsonaro, do PSL, não foi à convenção. Por outro lado, compareceram quatro ministros do governo —  Onyx Lorenzoni (Trabalho) e Tereza Christina (Agricultura), do DEM, Flávia Arruda (Secretaria de Governo), do PL, e Anderson Torres (Justiça).

Na divisão dos cargos de direção, a presidência do partido ficou com Luciano Bivar (PSL) e a secretária-geral com ACM Neto (DEM). A tesouraria foi entregue para a advogada Maria Emília Rueda, que é irmã de Antônio Rueda, braço-direito do Bivar.

Eleições 2022: Fusão de DEM e PSL mexe nas eleições estaduais; nova sigla pode ter até 12 candidatos; veja nomes

As negociações já vinham acontecendo há meses, mas foram seladas  hoje no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Os dirigentes das duas siglas se reuniram em salas separadas, onde deliberaram sobre a fusão, e depois fizeram a primeira convenção juntos no salão chamado de "Planalto".

Da parte do DEM, só o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, votou contra. Ele defendia que o partido já deliberasse sobre quem irá apoiar para presidente nas eleições de 2022. A questão tem dividido a nova sigla que coloca na mesma trincheira apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e entusiastas de uma terceira via.

— Está aprovada a deliberação por aclamação. Só o Rio Grande do Sul votou contrário — disse o presidente do DEM, ACM Neto, que conduziu a reunião. Ele prevê que a sigla deve ser formalmente criada até fevereiro de 2022, antes da janela partidária marcada para março.

— A partir de agora vamos analisar a situação de cada estado no Brasil. Mas é importante que a gente raciocine como União Brasil a partir de agora — acrescentou.

Do lado do PSL, a fusão foi aprovada por unanimidade, mas o processo demorou porque votação foi feita por meio de cédula de papel, conforme previa o estatuto do ex-partido de Bolsonaro.

— Há dois anos atrás a gente já comentava essa fusão com o Maia. Por que os democratas? Porque era um partido que combatia o PT - discursou o vice-presidente do PSL, Antônio Rueda, referindo-se ao ex-deputado Rodrigo Maia, que foi expulso do DEM.

— Nesse momento nasce uma comissão provisória que vai organizar todos os diretórios nos estados — completou.

Até 12 nomes nas disputas estaduais

A fusão entre DEM e PSL deve alterar o xadrez eleitoral para as disputas estaduais do ano que vem. A estrutura da nova legenda se transformou num fator de atração para quem planeja concorrer aos governos locais. Dirigentes que articularam a fusão planejam ter de dez a 12 candidatos . Nessa conta entram nomes que já pretendiam disputar a eleição pelo DEM, como Ronaldo Caiado, em Goiás, e ACM Neto, na Bahia, e políticos de outras legendas que passaram a discutir uma migração, como o governador mineiro Romeu Zema (Novo) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, de saída do PSDB.

— O partido pretende nascer com toda a força nos estados. A gente calcula que deve ter entre dez e 12 candidatos a governador, todos com bastante competitividade, nomes sólidos no Brasil — analisou o presidente do DEM, ACM Neto.

Nas últimas semanas, Zema se encontrou com ACM e com o deputado Junior Bozzella (SP), um dos vice-presidentes do PSL. De acordo com pessoas que acompanham as tratativas, Zema está incomodado com o racha do Novo entre grupos pró e contra o impeachment de Jair Bolsonaro.

Alckmin passou a adiar a sua transferência do PSDB para o PSD de olho na possibilidade de ingressar na nova sigla. Na quarta-feira passada, se reuniu com o comando do PSL de São Paulo e mostrou interesse em saber quantos candidatos a governador o novo partido terá. Alckmin tem dito a pessoas próximas que precisa de estrutura partidária, recursos e de um amplo arco de alianças para alavancar sua candidatura contra o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).

No Ceará, o deputado Capitão Wagner (PROS) negocia ingressar na nova legenda e disputar o governo estadual. O parlamentar não quis comentar a mudança de partido, mas pessoas próximas dizem que ele espera a concretização da fusão para bater o martelo. Caso a entrada do parlamentar não se concretize, lideranças do novo partido não descartam aliança com o grupo de Ciro Gomes (PDT), que deve ter um candidato.

No Amazonas, a entrada no novo partido do veterano Amazonino Mendes, que deixou o Podemos em julho, é dada como certa para concorrer ao governo local. Em Pernambuco, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, trocou o MDB pelo DEM no fim de setembro e deve ser o candidato da nova legenda. Filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB), Coelho já vinha negociando sua filiação.

— Com a fusão, fortalece o projeto (de lançar Coelho). As condições de competitividade dos candidatos majoritários no partido derivado da fusão DEM-PSL serão muito melhores — avalia o ex-ministro Mendonça Filho, presidente do DEM de Pernambuco.