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Por Gabriela Moreira, Martín Fernandez e Sérgio Rangel — Rio de Janeiro


Uma acusação documentada de assédio sexual e moral derrubou Rogério Caboclo da presidência da CBF. Nesta quarta-feira, em decisão unânime da Assembleia Geral, o dirigente foi suspenso por 21 meses do cargo de presidente, do qual já estava afastado desde junho.

Em tese, ele poderia voltar ao poder em março de 2023, quando faltaria um mês para o fim de seu mandato. Mas há outras acusações contra ele sendo investigadas na Comissão de Ética da CBF, além de uma investigação do Ministério Público do Trabalho, contexto que torna praticamente impossível sua volta. Em nota (leia a íntegra ao fim desta reportagem), Caboclo chamou a decisão de "golpe" e disse que vai lutar para retornar ao cargo.

Rogério Caboclo está fora da presidência da CBF até março de 2023 — Foto: Wilton Junior/Agência Estado

A Assembleia Geral da CBF, que tomou a decisão da suspensão nesta quarta, é um colegiado formado pelos presidentes das 27 federações estaduais de futebol. Eles referendaram a punição de 21 meses sugerida pela Comissão de Ética da entidade. Além do assédio, a comissão concluiu que Caboclo usou indevidamente recursos da entidade para comprar bebida alcoólica para seu consumo pessoal.

Foi a primeira vez na história centenária da CBF que um presidente foi punido dessa maneira pela Assembleia Geral. Rogério Caboclo precisava de 7 dos 27 votos para se salvar e voltar ao cargo. Mas a votação terminou 27 a 0 contra ele.

'Rogério Caboclo fazia pedidos absurdos, que eu nunca aceitaria', diz funcionária da CBF

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Foram 117 dias entre a apresentação da denúncia da funcionária à Comissão de Ética e a punição anunciada nesta quarta-feira. Neste período, outras duas mulheres também afirmaram ter sido assediadas por Rogério Caboclo. Todos os casos foram revelados pelo ge.

Quando Rogério Caboclo foi afastado da CBF, a entidade passou a ser comandada por Antonio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, vice mais velho. Há um mês, no entanto, dirigentes da entidade decidiram trocá-lo por outro vice: Ednaldo Rodrigues, ex-presidente da Federação Bahiana de Futebol.

Ednaldo deverá concluir o mandato de Caboclo, que dura até abril de 2023. O estatuto da CBF determina que eleições devem ser convocadas no período de um ano antes disso – ou seja, entre abril de 2022 e abril de 2023 será escolhido o próximo presidente da CBF.

Ednaldo Rodrigues concede entrevista depois da Assembleia Geral da CBF — Foto: Martín Fernandez

Ednaldo Rodrigues respondeu a perguntas dos jornalistas depois da Assembleia Geral. O dirigente afirmou que houve explanação de advogados das duas partes - funcionária que fez a denúncia e Caboclo. Segundo o atual presidente da CBF, os integrantes da Assembleia ficaram convictos de que houve assédio por parte do dirigente afastado.

- As 27 federações estaduais tiveram acesso a todo o conteúdo do processo. Elas sempre puderam ter ciência do processo, quem tinha dúvida sobre como votar teve a convicção plena de que houve o crime de assédio. Federações e vice-presidentes estão juntos no combate veemente à discriminação e ao assédio. Qualquer tipo de violência tem que ser combatida, especialmente contra a mulher. A CBF neste momento, nesta decisão histórica, mostra que nesta casa isso não pode mais acontecer.

Ednaldo acrescentou que o salário e os benefícios de Caboclo na CBF estão suspensos desde o segundo mês do afastamento e assim permanecerão enquanto durar a pena.

A punição desta quarta diz respeito somente à primeira denúncia. Entre os fatos narrados pela funcionária da CBF, estão constrangimentos sofridos em viagens e reuniões com o presidente e na presença de diretores da entidade.

Ouça áudios da denúncia de assédio contra Rogério Caboclo

Ouça áudios da denúncia de assédio contra Rogério Caboclo

Na denúncia, a funcionária detalha o dia em que o dirigente, após sucessivos comportamentos abusivos, perguntou se ela se "masturbava" - o áudio desta conversa foi revelado pelo Fantástico em 6 de junho. Entre outros episódios, segundo a funcionária, Caboclo ofereceu a ela um biscoito de cachorro, chamando-a de "cadela".

Ainda há dois outros casos contra Rogério Caboclo na Comissão de Ética. Um diretor da CBF o acusou de assédio moral e de obrigá-lo a invadir o computador da funcionária que o denunciou por assédio – algo que ela própria relatou em entrevista exclusiva ao Fantástico. Uma ex-funcionária da CBF também acusou Caboclo de assédio sexual e agressão.

Leia a nota de Rogério Caboclo:

"O presidente da CBF, Rogério Caboclo, considera que a decisão da Assembleia é mais um capítulo do maior e único golpe efetivo deflagrado contra um presidente de entidade esportiva em atividade no Brasil.

Quem acompanhou a votação, viu que estava evidente o constrangimento de vários dos presidentes de federações estaduais durante a votação.

Muitos deles estavam compromissados com o voto a favor de Caboclo. Mas a coação que resultou em assinaturas de uma lista pedindo a renúncia do presidente legitimamente eleito, na última reunião de presidentes, prevaleceu.

O sistema de votação adotado na Assembleia foi o de permanecer sentado quem estivesse de acordo com a deliberação da comissão de ética. E deveria se levantar quem estivesse contra. Isso criou desconforto ainda maior entre presidentes que tinham ideia de rejeitar o viciado procedimento ético contra Caboclo.

Rogério Caboclo lutará até o fim e utilizará todos os recursos jurídicos cabíveis até a solução definitiva do caso."

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