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Covid-19: calcule o risco de infecção em 5 lugares públicos sem a obrigação do uso da máscara

A pedido do GLOBO, o médico geneticista Salmo Raskin estipulou a probabilidade de contágio em ambientes com 50% ou 100% das pessoas imunizadas
Com o debate sobre a flexibilização das máscaras em alta no país, confira o risco de contágio em cinco situações sem o protetor facial e com o avanço da vacinação. Foto: André Mello / O Globo
Com o debate sobre a flexibilização das máscaras em alta no país, confira o risco de contágio em cinco situações sem o protetor facial e com o avanço da vacinação. Foto: André Mello / O Globo

RIO — Uma das discussões mais emblemáticas e atuais na pandemia é a flexibilização do uso das máscaras. Algumas cidades já começam a falar em uma liberação gradual da medida de segurança, e o Ministério da Saúde diz avaliar a desobrigação do item.

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Segundo o ministro Marcelo Queiroga, uma equipe técnica da pasta está avaliando a desobrigação do uso da máscara, que deve acontecer de forma gradual. Em Duque de Caxias, terceiro município mais populoso do estado do Rio de Janeiro, o prefeito Washington Reis (MDB-RJ)  publicou um decreto em que suspendeu o uso obrigatório do item, tanto em lugares abertos, como em lugares fechados, tornando a cidade a primeira a abolir a medida no país. Dois dias depois, uma decisão judicial acatou o pedido do Ministério Público e suspendeu a flexibilização.

Na capital do estado do Rio, o plano da prefeitura prevê uma mudança nas regras quando a cidade atingir 65% da sua população geral com a vacinação completa. Isso pode não demorar, já que a expectativa é que o Rio atinja esse percentual na próxima semana e, com isso, seja suspensa a obrigatoriedade do uso do item em locais abertos e sem aglomeração.

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No exterior, a medida vem sendo já testada em maior escala. Em Portugal, por exemplo, a desobrigação do uso de máscaras se tornou realidade somente nas ruas e veio apenas no último mês, quando mais de 80% dos portugueses já haviam completado o seu esquema vacinal. Israel, no entanto, que chegou a liberar o uso em lugares públicos e fechados em junho (quando pouco mais de 58% da população havia recebido as duas doses da vacina), retomou a obrigatoriedade nesses locais, após uma piora da pandemia no país.

O mesmo aconteceu nos Estados Unidos, que flexibilizou a obrigatoriedade para lugares fechados, quando cerca de 35% da população estava imunizada. Um mês depois, diante do aumento de casos e óbitos pela doença, o Centro de Controle de Doenças (CDC) do país voltou na decisão.

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Especialistas, no entanto, acreditam ser um movimento precoce, uma vez que o Brasil ainda tem menos de 50% de sua população geral completamente vacinada.

— O ideal seria esperar para chegarmos ao menos em 80% de cobertura — diz o geneticista e diretor do Laboratório Genetika, Salmo Raskin, em Curitiba, um dos maiores especialistas no assunto. — E mesmo com todos vacinados, é importante frisar, haverá contaminações.

— Hoje sabemos que até uma pessoa vacinada pode se infectar e transmitir o vírus para outra. Então, mesmo em ambientes com 100% de pessoas vacinadas, pode haver transmissão do vírus. Mas é importante lembrar que o imunizado muito raramente desenvolve uma forma grave da doença, além de transmitir o vírus por um período muito mais curto de tempo — destaca o especialista.

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A pedido do GLOBO, Raskin avaliou o risco de contágio em cinco lugares públicos, sem o uso de máscaras, e em dois cenários: com todos vacinados e com metade da população imunizada — caso do Brasil atualmente. Raskin considerou como baixo risco, quando a possibilidade de contágio é inferior a 30%; médio risco, entre 30% e 70%; risco alto, acima de 70%.

Ônibus

Diversos estudos ressaltam que o transporte público é o local com maior risco de contágio. Foto: André Mello / O Globo
Diversos estudos ressaltam que o transporte público é o local com maior risco de contágio. Foto: André Mello / O Globo

Risco com todos vacinados: Alto

Risco com 50% das pessoas vacinadas: Alto

Esse tipo de transporte público, assim como o metrô e o trem, reúne três das piores características para o risco de contágio: transportar um grande número pessoas desconhecidas sem a menor possibilidade de distanciamento e com pouca ventilação ao redor. Esses veículos, portanto, se configuram como os lugares mais arriscados à contaminação. A conclusão ganhou respaldo da ciência recentemente.

Um estudo conduzido pela Fiocruz de Pernambuco concluiu que esse tipo de ambiente é o mais perigoso. O trabalho analisou 400 amostras coletadas de superfícies bastantes tocadas, em locais e com grande fluxo de pessoas: parques, unidades de saúde, mercados, praia, além de terminais de ônibus. O último ambiente foi o campeão em contágio, com 48,7% das amostras positivas para o coronavírus. Em seguida, arredores de hospitais, com 26,8%; parques públicos (14,4%); mercados públicos (4,1%) e praias (4,1%).

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Escola

A capacidade das escolas em estabelecer protocolos sanitários ajuda a diminuir os riscos de contágio. Foto: André Mello / O Globo
A capacidade das escolas em estabelecer protocolos sanitários ajuda a diminuir os riscos de contágio. Foto: André Mello / O Globo

Risco com todos vacinados: Baixo

Risco com metade das pessoas vacinadas: Médio

Lugares fechados com muitas pessoas são naturalmente propícios ao contágio. Mas, no caso das escolas, com grande capacidade de estabelecer procedimentos sanitários, como distanciamento e higienização, junto à vacinação entre os adolescentes, faz o risco cair consideravelmente.

Parte do risco mantido ainda com todos vacinados é devido à vacina contra a Covid-19 no Brasil ser autorizada para adolescentes acima de 12 anos – e as escolas são repletas de crianças. Trabalho publicado no segundo semestre deste ano na revista científica Journal of the American Medical Association (Jama), conduzido com 6.280 meninos e meninas de 0 a 17 anos, mostrou que os pequenos têm a capacidade de transmitir a doença para um adulto cerca de 1,5 maior em relação a adolescentes de 14 a 17 anos. A Pfizer já pediu autorização aos EUA para imunizar a população  de 5 a 11 anos – o aval não deverá demorar e o Brasil deverá seguir a mesma orientação.

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Restaurantes

A adoção de protocolos de segurança ajudam a diminuir o risco de contágio nos restaurante, que seguem sendo um dos lugares mais propícios à contaminação. Foto: André Mello / O Globo
A adoção de protocolos de segurança ajudam a diminuir o risco de contágio nos restaurante, que seguem sendo um dos lugares mais propícios à contaminação. Foto: André Mello / O Globo

Risco com todos vacinados: Médio

Risco com 50% das pessoas vacinadas: Alto

Uma pesquisa conduzida pela Saúde Pública do Reino Unido constatou que os trabalhadores de bares e restaurantes são a categoria com maior risco de contágio, atrás apenas dos profissionais de saúde. Os restaurantes, assim como bares, estão entre os estabelecimentos que mais sofreram o impacto econômico na pandemia, tendo de manter as portas fechadas por longos períodos.

Isso os fez terem grande capacidade de criar regras de segurança para a volta à rotina absolutamente normal. Com protocolos, conseguem manter os riscos de infeção em nível médio. O risco só não é menor pelo fato de lidarem com alimentos e utensílios que podem facilmente ser compartilhados – e a transmissão por gotículas da saliva é implacável.  Bares e restaurantes que oferecem comida por quilo, onde os clientes se servem em bufês compartilhados, são os mais vulneráveis. Aqueles com áreas externas são os mais seguros.

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Parques e praias

Em locais abertos, o risco de transmissão é extremamente baixo. No entanto, deixar de evitar aglomerações, ainda que ao ar livre, pode aumentar as chances de infecção. Foto: André Mello / O Globo
Em locais abertos, o risco de transmissão é extremamente baixo. No entanto, deixar de evitar aglomerações, ainda que ao ar livre, pode aumentar as chances de infecção. Foto: André Mello / O Globo

Risco com todos vacinados: Baixo

Risco com 50% das pessoas vacinadas: Médio

Em ambientes amplos e abertos o risco infecção já é bem menor mesmo sem uma vacinação maciça. Uma revisão sobre a transmissão do vírus publicada pela Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, afirmou que o risco de contágio é 19 vezes maior em ambientes fechados do que abertos. Com ao menos metade das pessoas imunizadas, os índices caem drasticamente.

Além disso, no caso da praia, a transmissão do coronavírus pela água é bem pouco provável. O grande problema nesses ambientes é a aglomeração. -- O fato de estar ao ar livre não impede a transmissão de gotículas expelidas da fala, tosse ou espirro se o distanciamento não for de ao menos um metro, diz Raskin.

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O compartilhamento de objetos de uso pessoal, como guarda sol e cadeiras devem ser evitados. A prática de esportes coletivos, comuns nesses ambientes, deve também respeitar o distanciamento.  Ou seja, o risco depende mais do comportamento humano do que do local.

Avião

Estudos mostram que o risco de transmissão do vírus ao fazer uma viagem de avião é maior durante o embarque e o desembarque do que quando a aeronave está no ar. Foto: André Mello / O Globo
Estudos mostram que o risco de transmissão do vírus ao fazer uma viagem de avião é maior durante o embarque e o desembarque do que quando a aeronave está no ar. Foto: André Mello / O Globo

Risco com todos vacinados: Baixo

Risco com 50% das pessoas vacinadas: Médio

O avião é um dos ambientes mais estudados no que se refere à propagação do coronavírus. Pesquisas mostram que o risco de transmissão do vírus na aeronave é maior durante o embarque e o desembarque do que quando o avião está no ar. Isso porque  os sistemas de ventilação, que foram desenhados para remover de forma rápida a fumaça de cigarros das cabines, são extremamente eficazes em empurrar o ar direto para baixo.

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O uso do regulador individual de ar-condicionado, ainda por cima, aquele localizado em cima do assento, dispersa as  partículas virais. Ou seja, o avião espalha o vírus porque transporta pessoas infectadas mas oferecem pouco risco de contaminação.

Há ainda precauções a serem tomadas, como evitar o uso da bagagem de mão para os passageiros não respirarem em cima de outro sentado. A medida, afirmam os estudos, diminuir o risco de transmissão em cerca de 75%.

* Estagiário sob supervisão de Adriana Dias Lopes