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Intérprete de libras se emociona com relato de órfã à CPI da Pandemia

Giovanna Gomes Mendes da Silva falou à CPI da Covid nesta segunda (18.out) - Reprodução/TV Senado
Giovanna Gomes Mendes da Silva falou à CPI da Covid nesta segunda (18.out) Imagem: Reprodução/TV Senado

Colaboração para o UOL, de Brasília

18/10/2021 17h08

Emocionado com o depoimento de Giovanna Gomes Mendes da Silva, 19 anos, durante a sessão da CPI da Pandemia hoje, o intérprete de libras que fazia a transcrição da fala da jovem para a TV Senado precisou ser substituído por um colega.

No momento, a jovem contava que perdeu os pais para a doença e ficará com a guarda da irmã, de 10 anos.

"Eu, meus pais e minha irmã éramos muito unidos. Quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava. Eu vi que precisava da minha irmã e ela precisava de mim, eu me apoiava nela e ela se apoiava em mim. A partir dali, vi que eu não poderia ficar mais sem ela", disse.

No relato, a jovem também descreveu as dificuldades para o tratamento dos pais, ambos mortos.

"A minha mãe era transplantada e até conseguir a doação de rim vivemos uma tempestade. E quando pensávamos que voltaríamos a uma vida normal, veio essa outra tempestade da Covid. Por ela ser transplantada, o quadro de saúde agravou bastante. Meus pais estavam internados no mesmo hospital. Meu pai se recuperou da Covid, mas ele tinha câncer e piorou disso em seguida. Dois dias depois que a minha mãe faleceu ele voltou a ser internado e eu não pude nem chorar a morte dela para mostrar força para ele. E com 14 dias de diferença eu perdi meu pai", contou.

Giovanna atribuiu as perdas à condução da pandemia por parte do governo federal. "O governo tem responsabilidade por esses mais de 600 mil mortos. Tivemos um impacto emocional na minha família e também o financeiro. Passamos a ter a responsabilidade de nos sustentar. Familiares e amigos estão nos ajudando. Eu estudava, não trabalhava", relatou a jovem.

Giovanna falou ainda sobre a importância de acompanhamento especializado para entes de pessoas mortas pela Covid-19. "A ajuda psicológica também é muito importante. Hoje eu e a minha irmã temos porque alguém se prestou a fazer sem custo, mas isso também precisa ser pensado", contou Giovanna.

Mesmo com a definição pelo adiamento da leitura do relatório final da CPI da Pandemia, o colegiado se reuniu nesta segunda para uma audiência pública com familiares das vítimas da Covid-19. A leitura do relatório ficou para quarta-feira (20) e a votação do parecer deve ser realizada em 26 de outubro.

CPI e Órfãos na pandemia

O relatório final da CPI da Pandemia deverá propor a criação de uma pensão especial para órfãos de vítimas do coronavírus. O relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), informou ainda que vai sugerir a aposentadoria por invalidez para pessoas que ficaram com sequelas graves em razão da doença.

A iniciativa da CPI se soma às discussões sobre o tema já em andamento no Congresso. Tramita na Câmara o projeto de lei 1305/21, de autoria do deputado Flávio Nogueira (PDT-PI), que obriga o Fundo Nacional de Assistência Social (Fnas) a pagar pensão individual e mensal no valor de um salário mínimo a órfãos da covid. Na estimativa da relatora do PL, deputada Dra. Soraya Manato (PSL-ES), há mais de 130 mil crianças no Brasil que perderam pai e/ou mãe ou algum cuidador por causa do coronavírus.

Epidemia oculta

Mais de um milhão de crianças ficaram órfãs de pai ou de mãe por causa da Covid-19, informou um estudo mundial publicado pela revista científica Lancet, em julho. Quando são consideradas as perdas de tios e avós, o número sobe para 1,5 milhão de crianças. A pesquisa coletou dados de 1º de março de 2020 a 30 de abril de 2021 em 21 países.

O país mais afetado foi o Peru, onde 10 crianças em cada mil perderam ao menos uma pessoa de referência primária (pai, mãe, tio, tia, avó, avô), totalizando 98.975 menores de idade.Na sequência, aparecem África do Sul (5 crianças a cada mil, totalizando 94.625) e México (3 a cada mil, em um total de 141.132).

O Brasil figura na quarta colocação, com duas crianças a cada mil e um total de 130.363 menores. Sobre o país, o estudo mostrou que 25.608 crianças perderam a mãe, 87.529 o pai, 13 ficaram órfãs de ambos, totalizando 113.150. Outras 8.567 perderam a avó e 8.577 o avô e 69 perderam ambos.

O estudo alerta que as "crianças que perderam um parente ou um cuidador estão mais propícias a sofrer efeitos adversos de curto e de longo prazo sobre sua saúde, segurança e bem-estar, como um aumento do risco de sofrerem de doenças, abusos físicos, violência sexual e gestação na adolescência".

A matéria ainda pede "a adoção de medidas urgentes" em todo o mundo para responder o mais rápido possível "ao impacto das perdas".