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CRISE NA ECONOMIA

Live em tom de derrota faz mercado apostar em queda de secretário de Guedes

Bruno Funchal

A expressão de derrota do secretário da Fazenda do governo, Bruno Funchal, era autoexplicativa. O principal auxiliar de Paulo Guedes no ministério da Economia nem tentou disfarçar a frustração com o anúncio do novo valor do Bolsa Família, diante de dezenas de analistas de mercado e economistas que o viam falar no banco JPMorgan no final da tarde desta terça-feira.

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"Foi uma decisão política. Do Congresso, do Planalto e do presidente", afirmou ele, ao tentar justificar por que o governo decidira anunciar o valor de R$ 400 para o Auxílio Brasil, mesmo furando o teto de gastos. 

Há duas semanas, Funchal havia dito em outro evento do mercado financeiro que não assinaria nenhuma medida nessa direção.

Quem estava naquele evento entendeu que a única estratégia aceitável para a equipe de Paulo Guedes seria conseguir aprovar uma mudança na regra de pagamento dos precatórios que abrisse espaço no orçamento para um Auxílio Brasil de R$ 300 – valor máximo que o benefício poderia ter sem furar o teto, segundo as contas do próprio Funchal. 

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Só que na terça-feira, o "Estado de S. Paulo" publicou que o governo batera o martelo em torno de um valor de R$ 400, dos quais R$100 seriam pagos com créditos extraordinários, fora do  teto de gastos. O governo já marcara até um evento para anunciar o novo programa, o que deixou o mercado em polvorosa com a perspectiva do fim do teto. 

Meia hora antes do evento, porém, o anúncio do novo Auxílio Brasil foi adiado para que o governo pudesse acertar o arcabouço jurídico que justificasse os furos no teto. 

Portanto, a pergunta da economista-chefe do JP Morgan, Cassiana Fernandez, era inevitável: será que o anúncio do governo faria o ministério da Economia perder parte da equipe? A resposta de Funchal: "Estamos lutando pelo melhor. A gente tenta fazer o melhor, é só o que podemos fazer".  

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Imediatamente, os participantes começaram a trocar mensagens entre si por aplicativo: "Quanto tempo vocês acham que ele dura (no governo)?", começou um deles. "Três-quatro semanas", respondeu outro. "É questão de tempo", atalhou um terceiro. Àquela altura, a bolsa registrava queda de 3,28% e o dólar comercial estava cotado a R$ 5,59, o maior valor desde abril. 

A economista-chefe ainda tentou animar o secretário do Tesouro, dizendo que ele estava "lutando a boa luta". Em inglês, (a língua falada em todo o evento), a expressão é comumente aplicada a batalhas muito difíceis, mas frequentemente perdidas. 

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Pelo jeito, não resta muita dúvida no mercado sobre o destino dos últimos membros da equipe de Paulo Guedes a arriscar o cargo em nome da defesa do ajuste fiscal.  

 

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