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CPI da Covid só ouviu 28 das 70 pessoas que Renan quer que sejam indiciadas

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

19/10/2021 20h53Atualizada em 19/10/2021 21h03

Apesar de ter se prolongado por quase seis meses, a CPI da Covid não ouviu nem metade das pessoas que deverão ser indiciadas pela comissão. Em sua proposta de relatório final, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) pede o indiciamento de 70 pessoas, das quais apenas 28 prestaram depoimento aos senadores. As outras 42 pessoas, ou 60% do total, não chegaram a ser ouvidas.

A proposta de relatório final da CPI, está sendo discutida na noite desta terça-feira pelo chamado G7, que não inclui os membros governistas da comissão. No encontro estão sendo analisadas possíveis alterações no texto final que será apresentado amanhã e votado na semana que vem. O documento, de 1.178 páginas, foi obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmado pelo UOL.

O grupo dos que não prestaram depoimento inclui o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que não pode ser ouvido devido ao princípio de separação entre os Poderes. Além dele, contudo, os senadores deixaram de ouvir mais de 40 pessoas, que vão desde os filhos do presidente até médicos da operadora Prevent Senior, passando por influenciadores bolsonaristas suspeitos de propagar fake news.

Uma das integrantes desse grupo, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), afirmou hoje que vai acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) para que a CPI tome o depoimento dela. A parlamentar ainda conclamou os demais alvos de indiciamento que também não foram ouvidos a adotarem a mesma medida junto ao Supremo.

"E peço também que os outros indiciados façam isso. Aqueles que não foram ouvidos, que sequer tiveram o direito de se defender, tentem entrar na CPI. Qual será o medo de Omar Aziz, Renan Calheiros e outros membros da CPI, que diversas vezes falaram meu nome, qual é o medo de falar na minha cara o que vocês pensam a meu respeito?", disse Zambelli.

Os excluídos

Segundo o relatório, Zambelli cometeu incitação ao crime ao divulgar fake news a respeito da pandemia. També será sugerido o indiciamento de outros parlamentares, como os deputados Carlos Jordy (PSL-RJ) e Bia Kicis (PSL-DF), além de influenciadores digitais bolsonaristas, como Allan dos Santos, Bernardo Küster e Oswaldo Eustáquio. Assim como Zambelli, eles não foram procurados para depor à CPI.

Renan também deverá pedir o indiciamento do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o do vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Os filhos do presidente são acusados de comandar um esquema de fake news a respeito da pandemia, e Flávio ainda é enquadrado no texto por advocacia administrativa e improbidade.

A CPI também deixou de ouvir pessoas ligadas à operadora Prevent Senior que aparecem no relatório de Renan. Entre gestores e médicos, 11 representantes da empresa devem ser indiciados. Só um deles, porém, falou aos senadores na comissão: o diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, que negou acusações contra a empresa, como a ocultação de mortos pela covid.

Entre as 70 pessoas que terão indiciamento pedido pelo relator há seis ministros ou ex-ministros do governo Bolsonaro. Dois deles, contudo, não foram chamados a dar esclarecimento à CPI: o atual ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e o da Defesa, general Walter Braga Netto.

Além de estar arrolado no relatório por incitação ao crime devido à divulgação de fake news, Lorenzoni também é enquadrado por Renan no crime de genocídio de indígenas, por suposta "omissão deliberada e temerária no fornecimento de água" às aldeias quando era ministro da Cidadania.

Pelo mesmo crime, também deverão ser indiciados o presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Xavier, e o secretário de saúde indígena do Ministério da Saúde, Robson Santos da Silva. Assim como Lorenzoni, ambos também não foram chamados a depor.