Política

Debate prévias PSDB: Doria e Leite dizem que erraram ao apoiar Bolsonaro em 2018

Governador de São Paulo, do Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio participam do evento promovido pelos jornais O GLOBO e Valor
João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio participam de debate promovido pelo GLOBO e Valor Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio participam de debate promovido pelo GLOBO e Valor Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO — No primeiro debate entre os pré-candidatos do PSDB à Presidência, os governadores João Doria e Eduardo Leite assumiram que erraram nas eleições de 2018 ao pedirem voto para o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno. Junto com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, os três presidenciáveis do PSDB debateram nesta terça-feira sobre orçamento secreto, vacinas, meio ambiente, política para mulheres, entre outros temas. O debate, promovido pelos jornais O GLOBO e Valor, foi mediado pela colunista do GLOBO Vera Magalhães.

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Leite e Doria são os dois candidatos mais ativos na disputa pela indicação do partido à presidência, enquanto o Arthur Virgílio passou a visitar os diretórios do partido em busca de apoio apenas nas últimas semanas. Virgílio chegou a criticar Leite por se eleger com apoio de Bolsonaro, mas poupou Doria do mesmo ataque.

Leite usou como justificativa o desastre econômico dos anos petistas. Em pergunta direcionada a Leite, a colunista do GLOBO Míriam Leitão cita que, ao justificar o apoio ao então candidato Bolsonaro, em 2018, o gaúcho relembrou que já eram públicos os ataques de Bolsonaro à democracia e a defesa de tortura. O governador do Rio Grande do Sul disse que não repetirá o voto em Bolsonaro no próximo ano.

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— É importante discutir ideologia, gestão, mas o povo não come gestão, e ideologia não bota comida na mesa e vai resolver problemas reais da população. É muito fácil pra nós que temos a vida resolvida ficar discutindo a democracia e ignorar que milhões de pessoas deixam de comer. Não estou defendendo que se ignore o debate sobre a democracia. Tive que escolher entre um plebiscito. Ninguém duvida do meu voto em Alckmin, mas no segundo turno tivemos que escolher entre dois caminhos. Eu apostava que no caminho do Bolsonaro as instituições freariam, como estão freando, embora os ataques aconteçam.

Doria que, na eleição passada, chegou a defender o "bolsodoria", voto casado no paulista e no presidente, disse que fez a autocrítica necessária em relação ao governo federal.

— Claro que é [necessário fazer a autocrítica em relação ao apoio a Bolsonaro]. E eu faço essa autocrítica. Em relação ao Bolsonaro, eu errei, assim como o Eduardo [Leite] errou. Receber a crítica, analisá-la e compreendê-la faz parte daquilo que conduz o seu destino.

Sobre a posição do partido em relação a Bolsonaro, disse que o partido fez a autocrítica que era necessária ao se colocar como oposição ao que chamou de “governo genocida”.

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O encontro ocorre no auditório da sede da Editora Globo no Centro do Rio, e tem transmissão ao vivo nos sites dos dois jornais, no Facebook e YouTube do GLOBO, e nas páginas do Facebook, Linkedin e YouTube do Valor, além de cobertura em tempo real.

Mais cedo, em pergunta a Virgílio, Leite fez um aceno ao ex-prefeito de Manaus com um elogio sobre a postura dele no enfrentamento político que ele tem. Depois, perguntou sobre como o ex-alcaide vê o desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Virgílio foi enfático ao afirmar que o Brasil precisa da Amazônia para um desenvolvimento econômico do país e criticou as práticas ilegais de desmatamento e grilagem.

— Não pode continuar essa farra de grilagem e essa farra de poluição de rios com mercúrio — afirmou o ex-prefeito, que também falou sobre a possibilidade de uma intervenção internacional caso o desmatamento continue: — Não tenho nenhuma dúvida de que podemos sofrer uma intervenção militar.

Virgílio também defendeu o aumento do investimento ao Ministério de Ciência e Tecnologia em busca de um desenvolvimento sustentável.

Em outro momento, Leite questiona Doria sobre qual a sua visão sobre o teto de gastos com a necessidade de investimentos em políticas sociais.

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— Com políticas públicas claras, não veiculadas a ideologia e necessidade de apoio político. Falta maturidade, estatura, comprometimento e planejamento na área econômico do governo. É um fracasso completo.

Doria comparou o governo Bolsonaro com os governos petistas:

— Um governo que se apresentou liberal e não praticou, prometeu desestatizar e não desestatizou, prometeu atrair investidores internacionais e brigou com a China, França, Argentina, escolheu o lado errado nos Estados Unidos... Promove medidas disfarçadamente para romper o teto de gastos para garanti votos, como o PT fez isso por 13 anos.

Brigas internas

Virgílio questionou ainda as brigas internas no PSDB e se não seria mais eficiente para o partido evitar "notícias em jornais"

— Eu tenho visto essa história de frente anti-Doria, frente anti-Leite... Eu não estou aqui para perder, estou aqui para derrotar vocês dois. É muito difícil pra mim perder. Por que não cuidarmos apenas das questões públicas e evitarmos notícias em jornais.

Doria responde que as prévias do partido fortalecem a democracia interna do partido e defende que o PSDB assuma o papel de terceira via nas eleições do ano que vem.

—  Arthur, você quer unidade. Eu tenho certeza que o Eduardo quer unidade, e eu também. Prévias não dividem, prévias não fraciona, prévias unem, somam e agregam.