Política Eleições 2022

Ciro Gomes deixa pré-candidatura à Presidência 'em suspenso' após votos do PDT a favor da PEC dos Precatórios

Partido deu 15 votos pela aprovação do projeto do governo federal que posterga pagamento de dívidas e abre espaço no orçamento para Auxílio Brasil
O ex-ministro e pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes 13/09/2018 Foto: Fabiano Rocha / Agência O GLOBO
O ex-ministro e pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes 13/09/2018 Foto: Fabiano Rocha / Agência O GLOBO

SÃO PAULO — Nome do PDT para disputar a Presidência da República em 2022, Ciro Gomes afirmou na manhã desta quinta-feira que vai deixar sua pré-candidatura "em suspenso" em razão da postura da bancada do partido durante votação da PEC dos Precatórios na Câmara , nesta madrugada. Ele disse não poder "compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas".

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Decisivo para a vitória do governo nesta madrugada, o PDT contribuiu com 15 fundamentais votos a favor do Palácio do Planalto. Somente seis deputados, de uma bancada de 24, votaram contra a proposta, que passou por uma margem de quatro votos a mais que o mínimo necessário, de 308.

"Há momentos em que a vida nos traz surpresas fortemente negativas e nos coloca graves desafios. É o que sinto, neste momento, ao deparar-me com a decisão de parte substantiva da bancada do PDT de apoiar a famigerada PEC dos Precatórios. A mim só me resta um caminho: deixar minha pré-candidatura em suspenso até que a bancada do meu partido reavalie sua posição. Temos um instrumento definitivo nas mãos, que é a votação em segundo turno, para reverter a decisão e voltarmos ao rumo certo", escreveu Ciro em seu perfil no Twitter.

Ele afirmou ainda que "justiça social e defesa dos mais pobres não podem ser confundidas com corrupção, clientelismo grosseiro, erros administrativos graves, desvios de verba, calotes, quebra de contratos e com abalos ao arcabouço constitucional".

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Ao GLOBO, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, afirmou que a votação da bancada foi um "erro estratégico" e que vai conversar com cada um dos deputados federais até a próxima terça-feira, quando deve ser votada a mesma proposta em segundo turno, para convencê-los a votar contra.

— Foi um erro estratégico. Apesar de a bancada ter bons fundamentos, que é a questão do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental), eles não avaliaram a repercussão que isso ia dar para um partido que é oposição como nós. Dez por cento disso (calote) ajudou a derrubar a Dilma — declarou Lupi,

O anúncio de suspensão da pré-candidatura de Ciro é uma "estratégia para ajudar a mudar o voto da maioria, que vai ser exitosa". Mais cedo, ele ingressou com uma ação no Supemo Tribunal Federal (STF) contra a autorização dada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para que 23 parlamentares em viagem votassem remotamente na sessão.

O PDT foi convencido a votar a favor da PEC no fim da tarde da quarta-feira, quando pesou um acordo feito com Lira, de que colocaria para votar um projeto de lei que destina aos professores 60% do que a categoria tem direito dessas dívidas, mas que será escalonada em três anos. Mesmo assim, os votos decisivos da bancada geraram bate-boca em plenário após a votação . Paulo Ramos (RJ), contrário à PEC, saiu gritando com André Figueiredo (CE), ex-líder da bancada.

— Eu sabia que o André (Figueiredo) estava fazendo uma costura pelo Fundef, que tem toda a razoabilidade, mas em nenhum momento sabia que o PDT ia ter orientação favorável — disse Lupi.

Desde o fim da sessão, o partido começou a ser cobrado pela postura. Candidato do PT à Presidência em 2018, Fernando Haddad lembrou que, naquele ano, "três dos quatro candidatos do PDT a governador que foram para o segundo turno declararam voto no Bolsonaro". Ele tuitou: "Hoje, o partido assinou um cheque de R$ 90 bilhões para viabilizar sua reeleição. Não sei se tem conserto. Estrago monumental".

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Nas redes sociais, usuários associaram com ironia a PEC dos Precatórios, que limita o pagamento de uma dívida para a qual o governo não pode mais recorrer, à proposta de Ciro em 2018 de quitar débitos de consumidores no SPC. Nos grupos de WhatsApp de apoio a Ciro, militantes discutiam nesta manhã sobre a posição da bancada federal. Alguns lembraram o caso de Tabata Amaral, que, então no PDT, votou a favor da reforma da Previdência em 2019 e foi perseguida dentro da legenda até abandoná-la neste ano.

Deputados pedetistas que votaram contra a PEC também se posicionaram. Túlio Gadêlha (PE) disse que seu partido "vacilou" e que a "história vai cobrar". Pompeo de Mattos chamou a proposta de "PEC do Calote" e afirmou que "jamais poderia ter seguido a orientação favorável do PDT".

Já Figueiredo, bastante cobrado por conta de seu voto favorável, comprometeu-se no Twitter a marcar um encontro com a militância para explicar seu posicionamento.

'Terceira via' com Bolsonaro

Entre os partidos que tentam construir uma alternativa eleitoral entre o ex-presidente Lula e Bolsonaro, a contribuição para a aprovação da PEC foi de 56 votos. Dos 32 deputados do PSDB, 22 foram favoráveis ao texto, seis forma contrários e três não votaram. A legenda tem três pré-candidatos à Presidência, que disputarão as prévias: os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

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Em nota, Doria destacou que a PEC "fura o teto de gastos e é uma irresponsabilidade do governo federal". "Lamento que alguns deputados do meu partido tenham votado a favor do governo, mas tenho orgulho de dizer que os oito deputados federais de São Paulo votaram contra essa medida", disse.

O governador paulista também comentou que a proposta se trata de "um escárnio, é vergonhoso que o aval do Congresso Nacional possa ser dado por uma medida desta natureza."

Doria afirmou ainda que a intenção da medida "é criar um processo eleitoral que favoreça o presidente Jair Bolsonaro, portanto considero um equivoco e espero que o próprio Congresso tenha oportunidade de corrigir na segunda votaçao.”

No Twitter, Leite afirmou que a PEC dos Precatórios "acabou servindo de instrumento para alterações casuísticas no teto de gastos" e que "mina a credibilidade das contas públicas", mas não comentou o apoio de seu partido para aprová-la.

No PSD, que deve lançar ao Planalto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, 29 dos 35 deputados votaram com o governo federal. Cinco foram contrários e um não votou. Já o Podemos, que aposta na candidtura do ex-juiz Sergio Moro, dos 10 deputados, cinco foram favoráveis, quatro contrários e um não votou.