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Educação

A desconstrução do Inep

É uma competição dura, mas o Inep - autarquia vinculada ao MEC responsável por estudos e avaliações educacionais – é forte candidato ao triste título de instituição que mais sofreu com a incompetência e má gestão do governo Bolsonaro na educação. Na semana passada, a menos de um mês do Enem, dois coordenadores de áreas responsáveis pelo exame entregaram o cargo. Isso aconteceu um dia depois de servidores do órgão terem denunciado o atual presidente, Danilo Dupas, por assédio moral.

Criado em 1937, o Inep teve entre seus primeiros dirigentes Lourenço Filho e Anísio Teixeira, signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Num país com enorme atraso histórico na educação já naquela época, o instituto assumiu ao longo do século passado a importante missão de divulgar estudos e organizar as estatísticas do ensino. Depois de quase ser extinto durante o governo Collor, foi sendo reconstruído a partir da Presidência de Fernando Henrique Cardoso.

Como todo órgão da administração pública federal, o Inep atravessou crises e vivenciou altos e baixos nos últimos 30 anos, mas foi sendo ampliado e fortalecido. Uma característica das gestões de Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer foi sempre ter escolhido para a presidência do instituto nomes com conhecimento do setor educacional, que formaram equipes técnicas para a gestão de um sistema cada vez mais complexo de estatísticas e avaliações da aprendizagem.

O governo Bolsonaro quebrou esse padrão. Em dois anos e 10 meses, sua gestão já está no quarto presidente do órgão. Todos eram desconhecidos do setor educacional. Um deles, o delegado da Polícia Federal Elmer Vicenzi, ficou apenas 24 dias no cargo. 

A troca constante de presidentes e diretores no órgão reflete a falta de coerência nas políticas propostas. Na gestão de Alexandre Ribeiro Lopes, que sucedeu Vicenzi no órgão, o Inep estava mobilizado para um ambicioso projeto de ampliação do Sistema de Avaliação da Educação Básica, que já havia sido inclusive apresentado aos secretários estaduais e municipais de educação. Com a troca de comando no MEC e no Inep, o projeto foi para o lixo. A decisão pode ter sido acertada ou equivocada – havia críticos e entusiastas da medida -, mas a descontinuidade abrupta dentro de um mesmo governo apenas prova que não há projeto consistente.

Entre os maiores absurdos recentes no Inep está o fato de a diretoria responsável pelo Enem já ter sido comandada por um tenente coronel-aviador e por um general da reserva. Como já escrevi aqui, imaginem qual seria o tamanho da – justa – indignação nas Forças Armadas caso um pedagogo fosse escolhido para comandar o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da FAB ou a Diretoria de Obras Militares do Exército. Mas, num país com graves problemas educacionais, a principal obsessão dos bolsonaristas no Inep é censurar questões do Enem. 

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