Por Laís Modelli, g1


Líderes de países do G20 em foto de 30 de outubro de 2021 — Foto: Yara Nardi/Reuters

Os líderes das 20 principais economias do planeta, o G20, anunciaram neste domingo (31), em Roma, um compromisso para tentar conter as mudanças climáticas. O grupo acordou em limitar o aquecimento global a 1,5ºC e encerrar financiamentos públicos a novas usinas a carvão, segundo o documento final do encontro.

O G20 pediu uma ação "significativa e efetiva" para limitar o aquecimento global, mas ofereceu poucos compromissos concretos. No entanto, no discurso de encerramento, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, afirmou estar "orgulhoso com os resultados".

Os líderes não definiram uma data precisa para a neutralidade de carbono. O acordo diz apenas "por volta da metade do século".

"Vamos acelerar nossas ações através da mitigação, adaptação e finanças, reconhecendo a importância fundamental de zerar as emissões de gases de efeito estufa global ou alcançar a neutralidade de carbono por volta da metade do século e a necessidade de fortalecer os esforços globais necessários para alcançar os objetivos do Acordo de Paris", afirma o documento.

Por outro lado, apesar de algumas potências do G20 ainda serem dependentes do carvão para geração de energia - como China e Índia -, o grupo defendeu a suspensão dos subsídios a novos projetos de usinas a carvão no exterior já para este ano.

"Vamos encerrar a concessão de financiamento público internacional para novas usinas a carvão até o final de 2021", indica o texto negociado durante a cúpula do G20.

Porém, o documento não estabeleceu uma data para a eliminação da energia a carvão no mundo, prometendo fazê-lo "o mais rápido possível".

"O G20 deve assumir um compromisso especial para interromper a construção de novas usinas a carvão a partir deste ano e acabar com o subsídio aos combustíveis fósseis a partir de 2025", afirmou Friederike Röder, vice-presidente da ONG Global Citizen.

"Não passam de medidas obscuras em vez de ações concretas", disse Röder.

Os países do G20, que inclui Brasil, China, Índia, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, são responsáveis por 80% das emissões em todo o planeta de gases de efeito estufa.

Diferente das emissões nas grandes potências, no Brasil - que está isolado neste encontro da cúpula mesmo com a presença do presidente Jair Bolsonaro em Roma -, o grande vilão do clima não é a queima do carvão, mas o desmatamento e a pecuária.

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Zerar emissões de carbono

Os esforços para se alcançar a neutralidade de carbono foi outro tema acordado neste domingo.

Em 2019, A União Europeia se comprometeu a zerar o saldo de emissões de CO2 em 2050. Agora, contudo, o documento final do G20 diz que os planos nacionais sobre como reduzir as emissões de carbono serão fortalecidos "se necessário", e não faz nenhuma referência específica a 2050 como ano para atingir as emissões líquidas zero de carbono. A informação é da Reuters.

Este ano, especialistas climáticos das Nações Unidas alertaram que a meta de limitar a 1,5º C o aumento da temperatura na Terra deve ser alcançada para evitar uma aceleração dramática de eventos climáticos extremos, como secas, tempestades e inundações. Para isso, o painel climático da ONU recomendou que as emissões líquidas zero sejam alcançadas até 2050.

O G20 também não estabeleceu uma data para a eliminação gradual dos subsídios aos demais combustíveis fósseis em busca de energia limpa, dizendo, segundo a Reuters que se esforçarão para fazê-lo "no médio prazo".

Ainda neste último dia de cúpula, o s países do G20 reafirmam o compromisso, até agora não cumprido, de mobilizar 100 bilhões de dólares para os custos de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.

Vacinas

No documento final, o G20 também se compromete a trabalhar por um maior acesso a vacinas de países em desenvolvimento. "Avançaremos nossos esforços para garantir o acesso oportuno, equitativo e universal a vacinas seguras, acessíveis, de qualidade e eficazes", diz.

“Reforçaremos as estratégias globais para apoiar a pesquisa e o desenvolvimento, bem como para garantir sua produção e distribuição rápida e equitativa em todo o mundo, também fortalecendo as cadeias de abastecimento e expandindo e diversificando a capacidade global de fabricação de vacinas em nível local e regional, ao mesmo tempo, promovendo a aceitação da vacina, confiança e combate à desinformação”, diz o documento.

Os líderes ressaltaram que, em particular, apoiarão o aumento da distribuição, administração e capacidade de fabricação local de vacinas, inclusive por meio de centros de transferência de tecnologia em várias regiões, como os centros de mRNA recentemente estabelecidos na África do Sul, Brasil e Argentina, e através de arranjos de produção e processamento.

Bolsonaro isolado

Apesar de ter viajado a Roma para o encontro dos líderes do G20, a participação de Bolsonaro tem sido marcada por uma agenda esvaziada e de isolamento.

Mesmo com poucos encontros agendados, o presidente não participou na manhã deste domingo do passeio dos líderes do G20 por Roma, que tiraram uma foto na Fontana de Trevi, conhecido ponto turístico.

Mais tarde, Bolsonaro se encontrou com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom. Segundo informou o Planalto nas redes sociais, o encontro ocorreu "à margem da Cúpula de Líderes do G20", sem dar mais detalhes. Em sua página no Twitter, Tedros disse que discutiu com o líder brasileiro "o potencial do Brasil para a produção local de vacinas".

O discurso de Bolsonaro no G20, aliás, foi marcado pelo tema da pandemia de coronavírus. Apesar de não ter se vacinado contra a Covid-19, o presidente aproveitou sua participação na Cúpula, marcada para discutir as mudanças climáticas, para afirmar que os esforços do grupo deveriam se concentrar em produção de vacinas.

"Para o Brasil, os esforços do G20 deveriam concentrar-se no combate à atual pandemia, que continua a assolar muitos países. Entendemos, portanto, caber ao G20 esforços adicionais pela produção de vacinas, medicamentos e tratamentos nos países em desenvolvimento", declarou Bolsonaro no sábado.

Ainda no sábado, em uma das poucas trocas que teve com os demais líderes do G20, Bolsonaro afirmou em uma conversa breve com o presidente Recep Erdogan, da Turquia, que a Petrobras “é um problema”, reclamou da cobertura da imprensa e mentiu a respeito de seus índices de aprovação e da política para formação do seu ministério. (assista o vídeo abaixo)

Em encontro com presidente da Turquia, Bolsonaro mente sobre situação da economia brasileira

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“Petrobras é um problema. Mas estamos quebrando monopólios, com uma reação muito grande. Há pouco tempo era uma empresa de partido político. Mudamos isso”, disse o presidente.

Também chamou a atenção da imprensa internacional o fato do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, ter cumprimentado muitos chefes de Estado com um aperto de mão, mas ter evitado apertar a mão de Bolsonaro.

COP 26

A cúpula do G20 de dois dias serve para lançar as bases para a conferência climática da Organização das Nações Unidas, a COP 26, iniciada neste domingo em Glasgow, na Escócia.

"Se o G20 era um ensaio geral para a COP26, os líderes mundiais se equivocaram", declarou à AFP a diretora-geral do Greenpeace, Jennifer Morgan, para quem os líderes "não estiveram à altura do desafio".

Após a última conferência do G20, marcada para às 16h deste domingo, a maioria dos líderes do G20 deverá seguir para Glasgow. O presidente Bolsonaro, contudo, não deverá participar da COP 26.

Cerca de 190 nações do mundo participam da COP 26, que vai até 12 de novembro.

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