COP 26

Por Carolina Dantas, g1


A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) acontece nesta semana em Glasgow, na Escócia, em meio à certeza de que o planeta está realmente aquecendo e que as ações dos países contra o problema, principalmente os maiores emissores de gases do efeito estufa, estão atrasadas.

Na abertura do evento, na segunda-feira (1), o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou que a conferência deve marcar o começo do fim e o que "gerações futuras não vão nos perdoar se falharmos".

Ainda na segunda, o Brasil iniciou a sua participação na conferência sem a presença do presidente Jair Bolsonaro. O país foi representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que apresentou uma nova meta climática, com redução de 50% das emissões de gases do efeito estufa até 2030.

Além disso, mais de 100 líderes globais já prometeram acabar com o desmatamento até 2030.

Diante deste cenário, quais os principais desafios dos países na COP 26? Veja abaixo 5 pontos cruciais da cúpula, que devem ser discutidos ao longo da conferência:

1. Limitar o aquecimento a até 1,5ºC

Um dos objetivos traçados pelo Acordo de Paris é o de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC em relação ao período pré-revolução industrial, limitando em 1,5ºC. De acordo com o documento assinado em 2015, "isso reduziria significativamente os riscos e os impactos da mudança do clima".

Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade, acredita que existe um "fio" de esperança em manter o índice abaixo de 1,5ºC. Segundo ela, China e Estados Unidos, países que lideram as emissões internacionais, teriam que se mexer significativamente. Com a chegada de Joe Biden à presidência americana, o país tende a chegar "com os dois pés na porta" nesta COP, já que as ações para a proteção do meio ambiente e do clima são uma das principais bandeiras do Democrata.

Somente isso não resolveria o problema. O IPCC aponta que o 1,5ºC será ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa em todo o planeta. É consenso que as metas criadas anteriormente, mesmo que ainda não cumpridas, precisam ser mais ambiciosas. O debate para revê-las estará muito presente nesta COP.

"Existe um sopro de esperança, mas não temos mais tempo a perder", disse Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.

"O que é importante são os países aumentarem os compromissos o quanto antes e colocarem o mundo no rumo a 1,5ºC. O relatório do IPCC já mostrou que em todos os cenários, até em um em que os compromissos sejam na linha de 1,5ºC, em algum momento a gente vai ultrapassar a temperatura. Mas se a gente não perder tempo nesta década e continuar assim até 2050, vamos conseguir ficar abaixo do 1,5ºC até o fim do século".

Aumento da temperatura global — Foto: Arte/G1

2. U$S 100 bilhões na mesa?

Há mais de 10 anos existe a promessa de pagamento de U$S 100 bilhões por ano para a redução das emissões dos gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global. Os países desenvolvidos, que têm as maiores taxas de emissões, deveriam doar o valor aos países em desenvolvimento. O dinheiro deveria ter sido repassado já em 2020, como previa o Acordo de Paris e, a cada 5 anos, os países deveriam prestar contas sobre as ações.

"Acho que a primeira coisa é assegurar que pelo menos 100 bilhões sejam colocados na mesa. Acho que essa é a primeira demanda de financiamento", avalia Toni.

"Isso ainda não se concretizou, e esse número precisa ser concretizado nesta reunião, porque se não vai criar um clima de desconfiança muito grande entre os países que estão ali para negociar outras coisas”.

Depois disso, os países podem começar a prever um cronograma pós-2025. Inclusive, segundo especialistas, com cifras ainda maiores.

3. Perdas e danos

Um assunto que existia entre relatórios e debates, mas que deve despontar neste ano, é o de "perdas e danos". Os cientistas concordam que alguns países já sentem os efeitos climáticos com enchentes, secas e temperaturas expressivas. Algumas mudanças, como o aumento do níveo do mar, são irreversíveis para as próximas décadas.

Os principais afetados – que não são os maiores emissores de gases, o que eleva a sensação de injustiça — devem defender um esforço para mais recursos destinados às perdas e danos já sentidas no planeta. Entre eles, estão as nações africanas já afetadas pela seca e pelas enchentes, como a África do Sul.

"E isso é um dos temas mais controversos que têm. Existem países que não querem essa nomenclatura de 'perdas e danos' porque pode acabar abrindo uma discussão sobre responsabilidade, e tal, mas a verdade é que o IPCC já mostrou que estamos sofrendo os impactos das mudanças climáticas e que alguns deles não são mais adaptáveis", explica Toni.

Na África, população sofre com seca e excesso de chuvas

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4. Mercado de carbono

É um dos grandes temas, já que o mercado não foi regulamentado. Nesta conferência, deve-se fechar o livro de regras, com os temas mais controversos sobre os quais não foi possível chegar a um acordo desde Paris.

O mercado de carbono funciona da seguinte forma: uma organização que emite os gases paga outra que gera créditos para neutralizá-los. Assim, o carbono emitido é compensado. A cada uma tonelada métrica de CO² não emitida, é gerado um crédito. As regras desse mercado, entretanto, dependem da gestão de cada país. A conferência deve ajudar a resolver o problema.

"É o último tema para ser finalizado no livro de regras do acordo de Paris. Todos os outros temas já saíram da mesa. É demais a atenção dada ao mercado de carbono, como se fosse salvar a pátria de todos os problemas em relação à mudança climática, o que eu acho absolutamente exagerado, é só um dos instrumentos econômicos", avalia a diretora-executiva do ICS.

Segundo Toni, especificamente no Brasil, apesar de o mercado de carbono ser bastante lembrado como alternativa, ela não é a única: "A gente tem outras formas de ganhar financiamento que esquecemos, como o Fundo Amazônia. O governo fica aí nesta lengalenga, diz que é falta de dinheiro. Se fosse isso, a primeira coisa que o Joaquim Leite [ministro do Meio Ambiente] poderia fazer, já que tem o poder da caneta, seria desbloquear o Fundo Amazônia, e não o fez".

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5. Limpeza de imagem

A imagem internacional do Brasil está desgastada com recordes de desmatamento e queimadas nos últimos anos. A comitiva foi ao evento com a perspectiva de mudar a impressão do país com relação às ações, mesmo que apenas 1 ano antes das eleições presidenciais.

Um estande grande do Brasil é montado na feira da COP, com informações sobre a Amazônia, o desmate e as supostas medidas em implementação pelo governo brasileiro.

O objetivo, segundo o governo, é "fazer da COP uma oportunidade de mostrar um Brasil real, um Brasil que cuida e trazer de volta possíveis acordos de financiamento de clima e de mercado de carbono".

Segundo o Ministério do Meio Ambiente informou antes do início da conferência, o Brasil deve reforçar durante o evento os compromissos brasileiros anunciados pelo presidente Jair Bolsonaro durante a Cúpula de Líderes Sobre o Clima, que ocorreu em abril deste ano:

  • zerar até 2030 o desmatamento ilegal;
  • reafirmar a Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC) ao Acordo de Paris (redução de 37% das emissões totais até 2025);
  • buscar 'neutralidade climática' até 2050, antecipando em dez anos.

Na segunda-feira (1), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresentou uma nova meta climática, com redução de 50% das emissões de gases do efeito estufa até 2030. Contudo, Leite não apresentou o número real dessa nova redução prometida. É a terceira vez que o Brasil refaz a meta climática em menos de um ano.

Além disso, o Brasil está na lista dos 97 países que se comprometeram a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, anunciada nesta terça-feira (2).

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