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Por Daniela Chiaretti, Valor — São Paulo


O biólogo Thomas Lovejoy, um dos cientistas que mais estudou a Amazônia, morreu ontem, aos 80 anos, em Washington, de um câncer no pâncreas. O novaiorquino que adorava gravatas-borboleta foi um dos mais importantes pesquisadores da conservação. Foi ele quem usou pela primeira vez a expressão diversidade biológica, a biodiversidade.

Em um de seus últimos artigos, no New York Times em novembro, escrito em coautoria com o economista John Reid, Tom Lovejoy mencionou o acordo para parar o desmatamento em 2030, que havia sido anunciado em Glasgow, na CoP 26.

Mas esta não é a primeira vez que tal promessa foi feita, e ainda assim o desmatamento continuou”, escreveu Lovejoy, sugerindo caminhos imediatos para estancar a sangria: reconhecer os direitos territoriais dos povos indígenas, ampliar as terras protegidas e evitar estradas e indústrias em florestas ainda intactas. “Estamos perdendo uma batalha que podemos ganhar, mas só se mantivermos as florestas do nosso lado”, recomendou.

Lovejoy estudou e se pós-graduou em biologia pela Universidade de Yale. Tinha mais títulos, ganhou mais prêmios e ocupou mais cargos em instituições renomadas do que a extensa coleção de gravatas-borboleta com que gostava de se exibir.

Foi secretário-assistente de Meio Ambiente e Assuntos Externos do Smithsonian em 1987, conselheiro da Casa Branca nos governos Reagan, Bush, Clinton e Obama e mesmo agora, durante a campanha de Joe Biden, dava seus pitacos sobre clima, biodiversidade e Amazônia.

Foi conselheiro científico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente de 1994 a 1997 e conselheiro-chefe de biodiversidade do Banco Mundial.

Inventou o conceito dos debt-for-nature swaps que possibilitava a troca da dívida internacional por projetos de conservação. A ideia originou mais de US$ 3 bilhões e ajudou projetos na Bolívia, Costa Rica, Equador, Filipinas, Madagascar, Jamaica e Zâmbia entre outros lugares.

Lovejoy participou de conselhos de inúmeras fundações, escreveu centenas de artigos e vários livros. Foi professor. Acima de tudo, era um apaixonado pela Amazônia.

Iniciou seus estudos sobre a Amazônia em 1965.

“Conheço Lovejoy há muitas décadas. Eu era um jovem engenheiro no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Inpa, e o encontrei ali, em 1976. Já naquela época ele atuava fortemente em pesquisas sobre a diversidade na Amazônia. Fez sua tese de doutorado no final dos anos 60 exatamente sobre a biodiversidade da Amazônia e a partir daí sempre esteve ligado com a floresta, principalmente a Amazônia brasileira. E em particular com o Inpa, relação que durou mais de 40 anos”, lembra o climatologista Carlos Nobre, que assinou com Lovejoy artigos fundamentais sobre a Amazônia, o desmatamento e seus impactos.

Nobre, que chama o biólogo americano de “professor”, continua: “Lovejoy liderou uma série de projetos importantíssimos sobre biodiversidade amazônica, sobre os riscos que o modelo de desenvolvimento dos anos 70 estava trazendo para a Amazônia.”

Ele liderou um grande experimento em que se analisava o tamanho de áreas de floresta necessárias para manter a diversidade de muitas espécies. Onças, por exemplo, exigem grandes áreas. “O professor Lovejoy foi um dos grandes nomes da ciência da diversidade de espécies. Seus estudos tiveram muito impacto na conservação. Tive a satisfação de colaborar com ele em muitos projetos”, diz Nobre.

O mais recente dele foi o Painel Científico para a Amazônia, com mais de 200 cientistas que se reuniram para avaliar o estado atual da saúde da Amazônia e que produziu um amplo relatório lançado na CoP 26, em 12 de novembro, em Glasgow. “Tínhamos um comitê estratégico e ele era um dos mais importantes membros. Colaborou imensamente com o trabalho do painel. Foi uma das últimas coisas que fizemos juntos”, diz Nobre.

“É uma lástima muito grande ele ter nos deixado. Sentiremos muita falta dos belíssimos trabalhos que o professor Lovejoy desenvolveu, coordenou, liderou na proteção da biodiversidade global”, continua. “É um dos maiores nomes da proteção da biodiversidade da Amazônia”.

“No verão de 1965 [inverno no Brasil] tive a oportunidade de trabalhar no Instituto Evandro Chagas e na floresta nos arredores de Belém. Foi aí que decidi que queria fazer meu doutorado na Amazônia. Sempre fui fascinado por diversidade biológica e imaginava ter uma vida cheia de aventuras científicas. A Amazônia era esse mundo selvagem inacreditável e tropical. Era como se eu tivesse morrido e chegado ao Paraíso”, disse em 2015, em uma entrevista à revista da Fapesp.

“Era fascinante, e aos poucos passei de simplesmente fazer ciência a fazer ciência e conservação ambiental. A Amazônia é um dos lugares mais importantes para trabalhar no mundo”, continuou.

Sênior fellow da Fundação das Nações Unidas, Lovejoy estava lançando mais um livro – “Ever Green: Saving Big Forests to Save the Planet --, que escreveu em coautoria com John Reid.

Ali eles escrevem sobre cinco impressionantes florestas remanescentes na Terra – a taiga, que atravessa a Rússia; a floresta boreal, que vem do Alasca até a costa atlântica do Canadá; a Amazônia; a floresta do Congo, que ocupa partes de seis nações africanas e as florestas da Nova Guiné, que têm duas vezes o tamanho da Califórnia.

Lovejoy morreu no ano em que o desmatamento da Amazônia retoma níveis muito altos.

Em sua homenagem, o texto da Conservação Internacional (CI-Brasil) --organização na qual Lovejoy era membro do Conselho --, termina com uma de suas citações: “É a ciência que deve espalhar o entendimento de que a escolha não é entre a natureza selvagem ou pessoas, mas sim entre uma existência rica ou pobre para a humanidade."

Thomas Lovejoy morreu no dia de Natal, em sua casa, rodeado pela família.

Thomas Lovejoy — Foto: Divulgação/Inter-American Dialogue/Flickr
Thomas Lovejoy — Foto: Divulgação/Inter-American Dialogue/Flickr
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