O governo de Joe Biden quer manter sua indicação para o posto de embaixador dos EUA em Brasília, apesar do nome estar travado no Senado, o que significa que o país não deve ter um representante de alto nível no país antes da conclusão da eleição presidencial brasileira.
A Casa Branca não tem planos para retirar da pauta o nome de Elizabeth Frawley Bagley, mesmo diante do empate na Comissão de Relações Exteriores do Senado, em 11 a 11, e vai tentar forçar uma votação depois do retorno dos senadores do recesso, em agosto, de acordo com integrantes do governo.
O impasse na comissão significa que o líder da maioria, Chuck Schumer, precisaria usar o seu precioso tempo para levar adiante uma votação no plenário. Na prática, é provável que os EUA não tenham uma embaixadora no Brasil no momento em que o país inicia sua temporada eleitoral.
Em diversas ocasiões, a Casa Branca e alguns congressistas demonstraram preocupação com a estabilidade política do país, com o presidente Jair Bolsonaro espalhando teorias não comprovadas de que o processo eleitoral não é seguro.
Biden indicou Bagley, de 70 anos, uma doadora de longa data do Partido Democrata e que serviu como embaixadora em Portugal durante o governo de Bill Clinton, em janeiro. Mas sua indicação foi posta em xeque depois de o site conservador Washington Free Beacon publicar uma história citando comentários dela sobre doações feitas ao Partido Democrata por judeus e cubanos, em 1998.
Esses comentários, feitos como parte de um projeto de história oral, incluíram uma declaração afirmando que “democratas sempre estão ao lado dos eleitores judeus sobre Israel e dizem coisas estúpidas”. Ela sugeriu ainda que o partido usou um tom mais duro sobre o regime de Havana como uma forma de cortejar os doadores cubanos. “Não são números, é como o fator judaico”, disse Begley, “é dinheiro”.
— Foi uma má escolha de palavras — disse Begley, em sua sabatina. — Certamente não reflete minhas visões sobre americanos judeus ou americanos de origem cubana.
Mesmo assim, esses comentários fortaleceram a oposição ao seu nome, e ela não conseguiu nem um voto sequer dos republicanos. Bagley também foi alvo de perguntas duras de dois democratas, o presidente da comissão, Robert Menendez, e Ben Cardin, embora ambos tenham votado nela. Agora, cabe a Schumer dar início ao processo de votação em plenário.
'Preocupação real'
Durante a sabatina, a eleição no Brasil foi mencionada pelos senadores. Menendez disse que o Brasil é um “país onde um retrocesso democrático é uma preocupação real”,
— Estamos preocupados com o fato do atual líder tentar minar a essência do processo eleitoral em curso — disse o senador democrata, se referindo ao presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro.
Em julho, Bolsonaro, que tem uma relação próxima com o ex-presidente americano Donald Trump, disse a embaixadores estrangeiros no Brasil que as urnas eletrônicas são vulneráveis a fraudes, algo que as autoridades eleitorais negam veementemente.
Schumer não respondeu aos pedidos de comentários, e o Departamento de Estado repassou as questões à Casa Branca.
O atual governo americano tem encontrado dificuldades para preencher posições que necessitam da confirmação do Senado. Mais de 130 indicados estão sendo avaliados pela Casa, hoje dividida entre democratas e republicanos, de acordo com uma sondagem feita pelo Washington Post e pela ONG Parceria para o Serviço Público. Biden ainda não fez indicações para outros 82 postos. A Itália, que também realiza eleições este ano, é o único país do G7 sem um representante de alto nível na embaixada americana.
Se confirmada, Bagley declarou aos senadores que irá “afirmar a confiança [dos EUA] nas instituições democráticas brasileiras e no sistema eleitoral, e na importância de manter a confiança neste sistema antes das eleições nacionais de outubro no Brasil”.