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Número de microapartamentos em SP explode e sobe 3.427% em seis anos

Studio de 24 metros quadrados em São Paulo em que não há porta separando a cama da cozinha - Manuel Sá/Divulgação
Studio de 24 metros quadrados em São Paulo em que não há porta separando a cama da cozinha Imagem: Manuel Sá/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

11/03/2023 04h00Atualizada em 11/03/2023 10h54

Em 2016, as construtoras lançaram 461 unidades com dimensões de até 30 metros quadrados na capital paulista. Ano passado, o mercado imobiliário colocou 16.261 unidades à venda.

Mais pessoas morando sozinhas, mudanças no modo de vida e alterações no Plano Diretor estão por trás desse crescimento vertiginoso. A Prefeitura de São Paulo tenta mudar a lei para frear a construção de imóveis ultracompactos.

  • 14,9% dos domicílios brasileiros tinham um único morador em 2021 --10,7 milhões de pessoas --, segundo a Pnad Contínua divulgada ano passado pelo IBGE.
  • Em 2012, esse índice era de 12,2% -- 7,5 milhões de pessoas.

O morador que compra um estúdio em São Paulo é o jovem adulto que deu os primeiros passos na carreira, afirma Claudio Bernardes, vice-presidente do Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo). Trata-se de um morador com estilo de vida diferente de seus pais e mantém hábitos menos caseiros.

Ele usa aplicativos de celular para se locomover, passa muito tempo no trabalho e quase não come em casa, diz Reinaldo Fincatti, diretor da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). O pouco tempo no microapartamento também se explica pelo grande número de atividades lazer — cinema, shows, festas, restaurantes e outros.

Concentração em áreas nobres

As zonas oeste e sul abrigam juntas 3 a cada 4 microapartamentos colocados à venda (72,6%), entre os lançamentos do ano passado.

Sozinho, o bairro de Pinheiros (zona Oeste) teve 2.991 lançamentos (18,4% do total da cidade).

Pinheiros está incluído Vila Madalena, bairro da moda e com infraestrutura de lazer para os jovens."
Claudio Bernardes, vice-presidente do Secovi-SP

Viver num imóvel de até 30 metros quadrados, porém, significa abrir mão de facilidades — o que falta no apartamento é oferecido na estrutura do condomínio, ressalta o vice-presidente do Secovi. "A ideia é colocar o que faz falta no apartamento na área comum do prédio: espaço gourmet, salão de festa, várias churrasqueiras, academia bem montada, fachada ativa com conveniência no térreo", diz.

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Anúncio de 2017 oferece imóvel em SP de 10m2, apresentado como menor apartamento da América Latina
Imagem: Divulgação/TikTok/@albuquerque

Consequências negativas da falta de espaço

Com dimensões tão diminutas, muitas vezes os microapartamentos têm problemas que vão além das dimensões enxutas. O diretor da Embraesp cita a ventilação deficiente, iluminação externa precária e falta de privacidade caso duas pessoas dividam o ambiente. É menos comum, mas ocorre de casais serem os compradores.

Reinaldo pondera que fazer home office num lugar tão pequeno se torna complicado. Ele defende uma pesquisa para determinar o impacto na saúde mental dos moradores.

Acaba que a cozinha é integrada com a sala e a área de serviço. No fim, tem o tanque ao lado da pia e próximo do sofá. Como faz home office neste apartamento?"
Reinaldo Fincatti, diretor da Embraesp

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Plano Diretor incentivou viver perto de eixo de transportes públicos, mas moradores continuam a usar carro
Imagem: Conrado Tramntini

Plano Diretor incentivou microapartamentos

O modelo imobiliário de São Paulo que desembocou no boom de estúdios é consequência do Plano Diretor de 2014. O vice-presidente de Imobiliário do SindusCon-SP, Odair Senra, explica que a legislação priorizou a construção de prédios próximo a corredores de ônibus, estações de metrô e de trem.

A ideia era ter muita gente morando perto destes eixos de transporte e foi fixado um número mínimo de unidades por prédio, o que levou ao encolhimento dos apartamentos. "O conceito foi adensar onde tinha eixos [de transporte público]. Passou-se a fazer muitos apartamentos menores."

Prefeitura quer frear tendência

O Plano Diretor será atualizado neste ano e a prefeitura quer criar mecanismos para diminuir a construção de microapartamentos. O secretário municipal de Urbanismo e Licenciamento, Marcos Duque Gadelho, afirma que a intenção era fazer imóveis próximos aos eixos de transporte e as pessoas usarem estes corredores, o que não ocorreu.

Outra proposta do Plano Diretor era que os apartamentos grandes tivessem somente uma vaga de garagem, o que foi burlado. As construtoras fizeram prédios com imóveis de diferentes metragens. Os microapartamentos tinham direito a uma vaga, que não era ocupada e acabava vendida ou alugada para os vizinhos.

Na prática, o Plano Diretor não desafogou o trânsito. Proprietários de apartamentos maiores mantiveram a possibilidade de ter mais de um carro.

A prefeitura pretende passar a cobrar das construtoras que optarem por fazer garagens que sirvam imóveis de até 35 metros quadrados. A proposta será entregue à Câmara Municipal.

O histórico mostra uma tendência.

  • Em 2012, a metragem média dos lançamentos em São Paulo era de 73,12 metros quadrados.
  • No ano passado, a média foi de 46,58 metros quadrados.

Futuro incerto dos microapartamentos

Além da mira da prefeitura, a lei da oferta e da demanda pode ameaçar a sobrevida dos estúdios. Caso os juros continuem altos, será uma incógnita se compradores terão fôlego financeiro para comprometer mais de 30% da renda com a casa própria. A taxa elevada faz as parcelas aumentarem e os estúdios podem acabar em locais menos cobiçados atualmente.

A outra possibilidade é situação econômica melhorar, e a clientela ter dinheiro para comprar apartamentos maiores.