Edição de Sábado: A Ideia de Viktor Orbán

Eles se conheceram no quarto que dividiriam. Menos de um ano de idade os separava e muito tinham em comum. Os dois vinham do interior dispostos a ganhar o mundo. Ambos eram considerados alunos brilhantes. Rapazes lidos, aqueles dois, e haviam sido selecionados para a escola mais disputada da melhor universidade húngara. Em 1983, por dividirem o quarto de dormitório que a Escola István Bibó cedia a quem não era de Budapeste, eles tornaram-se melhores amigos, Gábor Fodor e Viktor Orbán. Juntos, nos anos seguintes, formariam um movimento político que juntou poder suficiente para derrubar a ditadura comunista. Ansiavam por democracia, por liberdade, e conquistaram ambas. Mas a política tem suas ironias. Hoje, Fodor e Orbán são rivais que se odeiam.

Nenhum fenômeno político marca mais o atual momento da história do que o da ascensão repentina de líderes autoritários com corte populista, nacionalista, e posicionados na extrema-direita. Todos pressionam a democracia por dentro, testam seus limites, embora nenhum tenha se tornado claramente um ditador. Ao menos não ainda. Um destes líderes, porém, está muito próximo disso. Ele é o marco zero, o ponto inicial do movimento. Foi na eleição de 2010 que fez de Viktor Orbán o premiê húngaro em tudo começou. Esta é uma história que se conta em três tempos. O primeiro, como Orbán se descobriu político, em meio ao desmantelamento do império soviético. Daí, a transformação de um jovem liberal idealista num autoritário que, com o auxílio de uma dupla de marqueteiros americanos, descobriu no apelo da extrema-direita ao homem comum um caminho para a popularidade. E, por fim, a construção daquilo que cientistas políticos vêm chamando de a primeira democracia iliberal da Europa.

Parte Um

A Hungria descobriu Viktor Orbán no dia 16 de junho de 1989. O comunismo ainda não havia caído, mas o clima já era de que o regime vivia seus últimos dias. Havia um processo de abertura. E, naquele dia, aos húngaros foi permitido fazer uma cerimônia de enterro a Imre Nagy, o líder executado em 1958, após a invasão soviética. Foi um evento e tanto. Duzentas mil pessoas, 10% da população da cidade, foram às ruas de Budapeste. A televisão transmitiu ao vivo. E quem viveu aquele momento tem memória clara do discurso de Orbán. Não foi o único a falar, mas foi o mais jovem e o mais marcante. Tinha 26 anos, o cabelo negro, olhos azuis, calça jeans. Talvez por jovem, não teve a cautela dos velhos. “Se podemos confiar em nossas almas, em nossa força”, ele gritou, “podemos juntos pôr fim à ditadura comunista. Se formos determinados o suficiente, podemos impor ao Partido que se submeta a eleições livres.” Foi um discurso marcante o suficiente para que o ensaísta britânico Timothy Garton Ash se perguntasse, na New York Review of Books dois meses depois, se não estaria chegando mesmo ao fim a cortina de ferro.

Orbán discursou porque, dentre aqueles que haviam fundado um ano antes a Aliança dos Jovens Democratas, ele era o mais hábil com as palavras. Na abreviação húngara, Fidesz. Na Escola István Bibó, onde todos eram brilhantes e quase todos cosmopolitas, frequentadores habituais dos cafés e bares de intelectuais da capital, ele fazia parte da turma do dormitório. A expressão mal disfarçava seu real significado. Os caipiras. Sua cidade natal não ficava longe, uns 60 quilômetros. Mas tinha dois mil habitantes que, além dos livros, resumiram seu mundo até o serviço militar pré-universidade. Foi a turma do dormitório que, em 1988, formou o Fidesz. Menos de 50 estudantes o fundaram. No primeiro mês de vida, em abril, juntaram na primeira reunião pública 400 pessoas. Em um ano, já se aproximava de dez mil o número de membros e Orbán fazia o primeiro corajoso discurso pela democracia transmitido em cadeia nacional.

A vida tem suas ironias, pois é. Havia muita gente prestando atenção naquele jovem estudante de Direito capaz de tanta verve. Em Nova York, um judeu húngaro sexagenário que deixara o país criança fugido do Holocausto e havia feito uma imensa fortuna no mercado de capitais, começava a botar dinheiro em iniciativas de abertura política. Sem ter como desconfiar que vinte anos depois teriam juntos um papel muito importante na virada política do país, George Soros concedeu a Viktor Orbán uma bolsa de estudos para que se aprimorasse na Universidade de Oxford.

Deveria ter sido mais tempo de estudo, mas Orbán ficou só um ano. Hoje, o reenterro de Imre Nagy é considerado o momento em que terminou o regime comunista na Hungria. Não foi um encerramento brusco como o alemão ou brutal, como o romeno. Foi negociado. As tropas soviéticas se retiraram e o Partido Comunista convocou eleições livres em maio de 1990. Feito partido político, o Fidesz lançou uma chapa encabeçada pelos melhores amigos Orbán e Fodor. Mas, além deles, havia também um segundo partido liberal na briga, o Democratas Livres formado por intelectuais mais velhos da capital, e os votos terminaram divididos. Os jovens fizeram só 22 cadeiras das 378 do parlamento. Esperavam bem mais. Não foi só a divisão dos votos entre liberais caipiras e liberais cosmopolitas que lhes custou votos. Após décadas de regime comunista, os eleitores elegeram um partido conservador.

Parte Dois

O que começou a acontecer a partir dali é matéria de interpretação. Alguns consideram que os liberais jovens do interior, principalmente Orbán, foram ao longo do tempo nutrindo um certo ressentimento pelo que consideravam arrogância dos mais velhos, daquela gente da capital. Sentiam-se tratados com desdém, como uma mera garotada ingênua. Mas há também quem diga que o início do deslocamento de Orbán para a direita foi genuíno, sincero, um jovem político começando a pensar com a própria cabeça. Há uma terceira interpretação: pragmatismo e oportunismo. Um movimento em direção ao ponto ideológico onde os eleitores estavam.

As três explicações não são incompatíveis, podem perfeitamente estar corretas ao mesmo tempo. Paul Lendvai, um jornalista nascido na Hungria já nonagenário, autor de uma biografia de Viktor Orbán (Amazon), aponta um traço importante na alma política húngara. Algo que, racional ou intuitivamente, encontrando talvez dentro de si próprio, Orbán aprendeu a explorar nos anos seguintes. Há uma percepção antiga, no interior, de que existe uma Hungria verdadeira — a rural — e aquela cosmopolita de Budapeste. Uma gente que tem o coração longe do país, virado para o estrangeiro. É uma forma velada de dizer: judeus.

Fato é que, ao primeiro mau resultado eleitoral sucedeu-se um fiasco no pleito de 1994. O Fidesz, por muito pouco, sequer conseguiu os 5% necessários à cláusula de barreira. Poderia ter ficado de fora do Parlamento. E, assim, Orbán começou a se mover rápido.

Como na Rússia e vários outros países europeus que haviam deixado regimes comunistas, formou-se na Hungria um conjunto de oligarcas, aqueles que compraram por esquemas vários as empresas estatais. Orbán aproximou-se deles. Aproximou-se, também, do crescente movimento nacionalista e conservador. Seus movimentos encontraram resistência interna no partido — mas, hábil, cercado de um pequeno grupo fiel, assumiu o controle da Executiva nacional. Ao longo dos anos seguintes, seu amigo Gábor Fodor, assim como muitos dos companheiros de dormitório nos tempos da István Bibó, foram deixando o Fidesz para se juntar à Aliança de Democratas Livres, aquela outra legenda liberal.

Não era, este, ainda o Viktor Orbán de hoje. Permanecia um ávido defensor da integração europeia e seu conservadorismo não tinha nada de extremo. Tendo operado a guinada do partido, costurou alianças com outras três forças da centro-direita e assim, nas eleições de 1998, o Fidesz sagrou-se o mais bem votado partido do país. Aos 35 anos, o rapaz que fizera o discurso que disparou a democratização húngara tornou-se o mais jovem líder de Estado do continente, alçado a primeiro-ministro.

Vitória de um mandato. A coalizão de quatro partidos não era estável, um deles se desmontou após um escândalo de corrupção e, arrogante, o jovem premiê não conseguiu em momento algum manter um governo popular. Na eleição de 2002, tomou uma surra. O Partido Socialista Húngaro, nome pelo qual atendia o velho Partido Comunista, voltou ao poder pelo voto com o apoio de seus velhos amigos da Aliança de Democratas Livres. Governariam por dois mandatos, até 2010, seguindo a pauta política da Terceira Via de Tony Blair e Bill Clinton, que teve por representante no Brasil Fernando Henrique Cardoso. Economia liberal com políticas sociais, um liberalismo de esquerda.

Não foi um governo que terminou bem. A crise econômica de 2008 elevou o endividamento da população, houve escândalos de corrupção, e protestos nas ruas foram recebidos com brutalidade policial. O campo foi aberto para um retorno da direita. E Orbán estava pronto. “Dizem que o poder estraga políticos”, disse Jozsef Debreczeni, outro biógrafo do premiê húngaro. “Com Orbán não foi assim. Foi a perda de poder que teve este efeito. Ele concluiu que essa coisa de democracia, na qual o poder pode escapar dos seus dedos, não servia.”

Parte Três

Em 2008, o premiê israelense Benjamin Netanyahu, de quem Orbán havia se tornado amigo, o apresentou a uma dupla de marqueteiros americanos chamados Arthur Finkelstein e Eli Birnbaum. Finkelstein era já um sessentão que, nos anos 1960, de assistente pessoal da escritora libertária Ayn Rand, logo fizera fama como arguto leitor de pesquisas eleitorais. Uma daquelas cabeças capazes de enxergar, atrás de montanhas de dados, os medos mais profundos de uma população. Seu talento o fez trabalhar para Richard Nixon, Ronald Reagan, George Bush pai e, depois, o filho. Um homem que frequentou avidamente todos os Salões Ovais republicanos num arco de 40 anos, amigo pessoal de presidentes, sem o qual nenhum deles tomou qualquer grande decisão sem antes ouvir. Birnbaum não fizera ainda 40 anos e havia encontrado no sócio mais velho uma alma gêmea profissional e um mentor, quase uma figura paterna. Tornaram-se consultores internacionais juntos, marqueteiros de eleições, nos anos 1990, quando no rastro do assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin conseguiram eleger em Israel seu principal inimigo, o próprio Netanyahu.

Rabin foi morto pelo tiro de um israelense radical de direita. Elegeram Netanyahu com um discurso contra o radicalismo palestino.

Um dos dramas húngaros naquele ano eram as medidas de austeridade impostas pelo Banco Mundial, União Europeia e FMI, condições para o imenso empréstimo que o país teve de tomar para sobreviver ao tombo da crise. A dívida pública já crescia, a bem da verdade, desde o governo do próprio Orbán, embora os dois mandatos da dobradinha socialistas e liberais não fizeram muito para diminuí-la. Não foi muito difícil, para os dois marqueteiros, encontrar a quem dirigir seus ataques: os burocratas do governo e o ‘capital internacional’. E foram estes dois fantasmas que Viktor Orbán atacou por dois anos até vencer o pleito de 2010, com o Fidesz levando sozinho dois terços dos votos. Na história daquela jovem democracia, era um resultado eleitoral inimaginável.

A Hungria é diferente do Brasil. De uma federação de tribos após o Império Romano tornou-se um reino em 972. Conquistado parcialmente por otomanos no tempo dos Descobrimentos, não viveu o Iluminismo europeu. Tornou-se anexo dum império dominado pelos Habsburgos austríacos a partir da década de 1870 e viveu, a partir do final da Primeira Guerra, um período de golpes e contragolpes até que veio a estabilidade fascista, seguida da comunista. Toda a história da democracia húngara se resumia à período curto entre 1990 e 2010.

A extensa maioria parlamentar, 263 das 386 cadeiras, concedeu a Orbán o poder de fazer o que quisesse. E, tendo bombardeado a burocracia com sucesso nos dois anos anteriores, ele tinha um plano que começava por uma grande emenda que, em essência, transformava em outra a Constituição. Quem rascunhou o texto foi um de seus colegas dos tempos de dormitório, o advogado feito político Jozsef Szajer. Foi badalada, na época, por ter sido escrita num dos primeiros iPads — soava moderníssima, digital. Não durou muito a impressão, conforme o teor do texto vinha a ser conhecido.

Toda pessoa de etnia húngara nascida nos países vizinhos passava a ter direito a cidadania. Formava-se, assim, um espírito de nação como cultura e etnia para além do país. O casamento entre homem e mulher foi imposto como único. Cortou-se o financiamento de universidades públicas e o governo central tomou para si a tarefa de definir quem receberia bolsas de estudo. A Corte Constitucional, que havia sido o principal organismo garantidor de liberdades individuais desde sua criação, em 1989, foi redesenhada. Todas suas decisões anteriores a 2011, anuladas, a idade de aposentadoria dos juízes foi diminuída para que o parlamento pudesse substituí-los rapidamente, e seu poder para declarar inconstitucionais leis aprovadas por dois terços da Câmara foi retirado. Novas religiões só teriam autorização caso fosse garantida lealdade dos fiéis ao governo. Os distritos eleitorais foram redesenhados para diminuir o peso político da capital e aumentar os do interior.

A União Europeia teve problemas com o novo texto, o secretário-geral da ONU se queixou, ONGs denunciaram.

Orbán era adorado pela população. Mas ele tinha um problema que se tornou a obsessão de Finkelstein e Birnbaum. Com a oposição dizimada e a brutal reestruturação do Estado realizada, o premiê precisava de algum tipo de recurso que o mantivesse popular. Os dois consultores imaginaram Orbán como o líder de uma campanha eleitoral permanente, sempre envolvendo sua base eleitoral e, para isto, precisavam de um inimigo. Se os problemas da burocracia haviam sido ‘resolvidos’ com a nova Carta, o capital internacional tinha de ganhar um rosto. Não demorou para que os dois concordassem com um nome. A solução perfeita. Um húngaro que só visitava o país muito, muito raramente, homem de inquestionável poder, de muito dinheiro, porém distante o suficiente para ser no imaginário apenas uma imagem, um espectro.

O investidor internacional George Soros foi transformado num operador de marionetes, o sujeito que, num escritório distante, manipula tudo para submeter a Hungria a seu poder sem que ninguém o perceba. A Open Society, ong filantrópica de Soros cuja missão é distribuir seu dinheiro em investimentos social-liberais e que sempre foi muito ativa em seu país natal e em todo o Leste europeu, assim tornou-se vilã.

É. A história tem, sim, suas ironias. Dois marqueteiros judeus americanos, recomendados por um premiê israelense, trouxeram à tona o velho antissemitismo húngaro, adormecido, mas nunca de fato morto, e o tornaram uma poderosa arma política. A ironia não para aí. Finkelstein, a quem o casamento com seu parceiro de toda a vida lhe foi negado pela lei americana até poucos anos antes de sua morte, em 2017, foi um dos que incentivou Orbán a definir de forma estrita o casamento na Constituição, explorando o conservadorismo da população. Em 2014, o Fidesz fez 133 das 199 cadeiras, a nova formação do Parlamento.

No segundo mandato, Orbán encontrou uma nova e poderosa arma de mobilização. A crise na Síria, iniciada em 2011 com a eclosão da Guerra Civil, começava a transbordar numa crise migratória na Europa. Com o país já mobilizado por um espírito nacionalista, o premiê lançou-se à tarefa de erguer uma grande e popular cerca com arame farpado, quatro metros de altura, e extensa 523 quilômetros por toda a fronteira com Servia e Croácia. Separando o país dos Balcãs.

O Primeiro

Em 1997, o jornalista indo-americano Fareed Zakaria cunhou num artigo o termo democracia iliberal. Ele buscava um nome para definir um tipo de regime novo que estava surgindo, quando ditaduras escancaradas longe do ocidente iam lentamente suavizando até a aparência de uma democracia — embora nunca, de fato, se tornando democracias. Quase uma contradição em termos, pois uma democracia sem as liberdades individuais nascidas do liberalismo não poderia, de fato, ser uma democracia. Mas precisava de nome este algo que também não parecia, mais, uma ditadura estereotipada. Cingapura, por exemplo, ou o Paquistão.

O que Zakaria não imaginava é que assim como ditaduras se suavizavam até este estranho misto, democracia iliberal, nao século que entrava algumas democracias também enrijeceriam, na mesma direção.

“Os valores liberais estão deteriorando”, disse Orbán em um dos mais impactantes discursos que fez após sua reeleição, em 2014. “Deterioram porque incorporaram corrupção, sexo e violência. A Europa se tornou tão preocupada com os problemas dos imigrantes que se esqueceu da classe trabalhadora branca. O mundo liberal está sendo colonizado por grandes corporações. É preciso afirmar que uma democracia não é necessariamente liberal. O modo liberal de organizar o Estado não é sustentável. A visão fundamental do liberalismo para organização social é de que somos essencialmente livres para fazer qualquer coisa que não afete a liberdade do outro. Os vinte anos húngaros até 2010 foram marcados por este princípio. O resultado é que sempre se pisou no mais fraco. É que por trás deste princípio abstrato de justiça o lado mais forte sempre venceu. O Estado que estamos criando é um Estado iliberal. Não negamos os valores do liberalismo como a liberdade. Mas não fazemos desta ideologia o elemento central da sociedade. Não é impossível criar um Estado iliberal dentro da União Europeia.”

De fato, não foi impossível.

Quando Donald Trump fala de um muro que separe os EUA do México, está evocando Viktor Orbán. Quando Jair Bolsonaro centra fogo no Supremo e no Parlamento, quando vê nos órgãos de estrutura do Estado máquinas de manipulação de valores, também evoca Orbán. Manter-se em campanha eleitoral eterna, sempre nutrindo sua base mais radical — é o método Orbán. A ideia de um espírito nacionalista, do discurso contra minorias, ou mesmo o apelo ao homem comum esmagado pelas elites não são novos em política. Mas o refino do discurso é novo. A preocupação de manter uma aparência de democracia, é. A tentativa de redefinir democracia, de desmontar os pesos e contrapesos dos Três Poderes para concentrá-los em um líder populista que represente o povo de verdade, e chamar de democracia, isto é Orbán. E sempre que alguém fala da Open Society, de George Soros, ou apenas de uma conspiração vaga que em algum lugar controla Estado e instituições para impor valores igualitários sobre uma população trabalhadora que em verdade está oprimindo — lá está Viktor Orbán. É um jeito novo de explorar o ressentimento.

Os partidos não foram ilegalizados na Hungria. Gábor Fodor é presidente do pequeno Partido Liberal Húngaro. Ele continuou onde estava nos tempos do dormitório. “O objetivo dele não era ser político”, lembrou um Fodor nostálgico ao New York Times, em 2018. “Tudo o que Viktor queria era ser reconhecido nos círculos intelectuais de Budapeste.”

O propósito de uma corporação

Enquanto a política anda cada dia mais polarizada, algo começa a mudar no mundo dos negócios. Essa semana a Business Roundtable, uma associação que junta CEOs de algumas das maiores empresas dos Estados Unidos, publicou um manifesto com uma nova declaração de propósito para uma corporação. Segundo o documento, um CEO não deve mais trabalhar pensando apenas no que é melhor para os acionistas, mas sim pensar em todos os stakeholders da empresa: empregados, fornecedores e a comunidade, além dos acionistas. O manifesto foi assinado por quase 200 CEOs, incluindo Apple, Amazon, GM, AT&T, Boeing, Caterpillar, JP Morgan, Coca Cola, Citygroup, IBM, J&J entre outras:

Por vezes demais o trabalho duro não é recompensado, e pouco tem sido feito para ajudar os trabalhadores a se ajustarem às mudanças aceleradas que afetam a economia. Se as empresas falharem em reconhecer que o sucesso de nosso sistema depende de crescimento inclusivo de longo prazo, muitos irão começar a questionar o papel dos grandes empregadores em nossa sociedade. Com essas preocupações em mente, nós da Business Roundtable estamos modernizando nossos princípios sobre o papel de uma corporação. Desde 1978 publicamos periodicamente um documento com o propósito de uma corporação, desde 1997 este documento definia que corporações existem principalmente para servir seus acionistas. Está claro, hoje, que essa frase não descreve mais com precisão as formas em que nós e nossos membros temos atuado na criação de valor para todos os nossos stakeholders, cujos interesses de longo prazo são indissociáveis.

Empresas cumprem um papel essencial na economia, criando empregos, promovendo inovação e fornecendo bens e serviços. Enquanto cada uma de nossas empresas individualmente persegue seus próprios propósitos e objetivos, compartilhamos um compromisso fundamental com funcionários, fornecedores e clientes. Nos comprometemos a: Entregar valor para nossos clientes buscando sempre exceder suas expectativas. Investir em nossos funcionários, começando por compensá-los de forma justa e oferecendo benefícios e treinamento para ajudá-los a se adaptar às mudanças do mundo. Promover inclusão, dignidade e respeito. Lidar de forma justa e ética com nossos fornecedores. Suportar as comunidades onde estamos inseridos, proteger o meio ambiente buscando práticas sustentáveis em todos os nossos negócios. Gerar valor de longo prazo para nossos acionistas, que fornecem o capital que precisamos para investir, crescer e inovar de forma comprometida e transparente.

Andrew Ross Sorkin, editor de negócios do New York Times: “O manifesto é uma grata e significativa mudança de posição. Nos últimos anos as corporações tem resistido a repensar suas responsabilidades com a sociedade. Por quase 50 anos, após a publicação em 1932 do seminal artigo acadêmico A Corporação Moderna e a Propriedade Privada por Adolf Berle Jr. e Gardiner Means, empresas eram gerenciadas pensando em todos os seus stakeholders. Eram tempos definidos por sindicalização dos trabalhadores, fundos corporativos de aposentadoria, e de doações de empresas que investiam pesadamente em suas comunidades e no tipo de pesquisa que garantia crescimento futuro. Foi um período que ficou conhecido como gerencialismo. Mas na década de 70, o gerencialismo passou a ser associado a executivos acomodados preocupados em manter suas empresas inchadas em vez de pensarem nos seus acionistas. Coincidiu com o surgimento de Milton Friedman, economista da Universidade de Chicago, que pregava que o único propósito de uma empresa é o lucro, e ridicularizava qualquer um que sugerisse que empresas deveriam se preocupar com outras coisas. Surgiu aí o conceito de democracia de acionistas. Estes, junto de um novo tipo de investidor, conhecido como predador corporativo, começaram a pressionar os executivos a cortarem qualquer tipo de gordura de seus orçamentos. Demissões aumentaram, investimento em pesquisa e desenvolvimento foi cortado, fundos de aposentadoria trocados por previdência privada. Houve um grande aumento de fusões que buscavam apenas reduzir custos. Enquanto isso, os lucros cresciam junto dos dividendos. Hoje, americanos desconfiam das corporações e de certa forma até mesmo o conceito de capitalismo tem sido discutido na arena política. Populismo tem se espalhado pelos dois polos do espectro político. Não foi a democracia de acionistas que gerou esse momento iluminista. Foi a indignação da população que trouxe o tema para a discussão. Claro que uma série de executivos merecem crédito por essa mudança. Mas há motivos para se suspeitar que o manifesto da Business Roundtable vá mudar pouca coisa. Algumas grandes empresas, como Alcoa e GE, não assinaram o manifesto. O Conselho de Investidores Institucionais, que representa muitas das mesmas empresas que fazem parte da Business Roundtable, e ainda vários dos maiores fundos de pensão do país, distribuiu uma vigorosa resposta em que discorda veementemente das ideias contidas no manifesto: ‘Responsabilidade para todos significa não prestar contas a ninguém. É papel do governo, não de empresas, atender qualquer objetivo da sociedade que tenha pouco ou nenhuma conexão com a geração de valor a longo prazo para os acionistas.’ Independentemente do progresso que tenha sido feito essa semana, fica claro que a discussão está longe de terminar. Na verdade, a guerra pela identidade corporativa está apenas começando.”

Era Uma Vez em... Hollywood

Era uma vez em Hollywood... é uma vitória de Tarantino. É a maior bilheteria do diretor. Após sua estréia no Festival de Cannes, em maio, a revista Esquire elogiou o filme, comparando-o a uma ‘obra-prima de Shakespeare’. Também não é possível ignorar a maneira como o filme as retrata mulheres, particularmente sua protagonista feminina. O filme subverte Tate, apresentando uma história sobre dois personagens imaginários em que ela nada mais é do que uma cifra sexualizada.

Trilha sonora Era Uma Vez Em... Hollywood

E a trilha sonora completa de Era Uma Vez Em... Hollywood. É bem bonita. No Spotify.

E os mais clicados da semana:

1. Estadão: As melhores e piores mostardas amarelas: confira o ranking das marcas.

2. UOL: Pai de vítima consola mãe de sequestrador de ônibus no Rio.

3. Apartment Therapy: Lista: oito dicas simples de decoração para casa.

4. NatGeo: Amazônia está pegando fogo em taxas recordes, e o desmatamento é responsável.

5. Instagram: Parece uma macarronada ao sugo, com almôndegas, mas é 'só' um bolo confeitado mesmo.

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‘Mapa de apoios está desfavorável ao Irã e sua visão de futuro’, diz Abbas Milani

17/04/24 • 11:00

O professor Abbas Milani nasceu no Irã. Foi preso pelo regime do xá Reza Pahlavi. Depois, perseguido pelo regime islâmico do aiatolá Khomeini. Buscou abrigo nos Estados Unidos na década de 1980, de onde nunca deixou de lutar por uma democracia em seu país de origem. Chegou a prestar consultoria a George W. Bush e Barack Obama, numa louvável disposição de colaboração bipartidária. Seu conselho sempre foi o mesmo: o Irã deve se reencontrar com um regime democrático, secular, por sua própria conta. Sem interferências externas.

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