Economia Coronavírus

Guedes diz que governo lançará pacote anticoronavírus em 48 horas e cobra reformas

Ministro não descarta mais saques do FGTS e defende uso dos R$ 15 bi em disputa com Congresso para programa
O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou servidores a parasitas Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou servidores a parasitas Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Economia, Paulo Guedes , afirmou nesta sexta-feira que o governo vai lançar um programa de medidas econômicas em 48 horas para lidar com os efeitos da crise do coronavírus , mas não deu detalhes.

Ele não descartou liberar novos saques do FGTS e defendeu que parte dos R$ 15 bilhões do orçamento que são alvo de disputa entre Palácio do Planalto e Congresso sejam usados para reforçar setores da economia e para custear medidas na área de saúde.

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— Agora, estamos fazendo o programa de combate ao coronavírus, os bancos públicos estão nisso, estamos lançando o monitoramento a cada 48 horas, vamos ter informação sobre todos os impactos da cadeia produtiva, estamos examinando a questão tributária. É uma série de medidas sérias, profundas, que estamos examinando - disse o ministro.

Na noite de quinta-feira, o Ministério da Economia anunciou as primeiras medidas para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus . Entre elas antecipação para abril do pagamento da primeira parcela do 13º salário dos aposentados e pensionistas do INSS.

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Também foi criado um grupo de monitoramento do Ministério da Economia. Para Guedes, o grupo deu uma resposta à crise no mesmo dia e vai continuar anunciando novas medidas. Ele também aproveitou a conversa com jornalistas para cobrar a aprovação das reformas pelos parlamantares.

— Em menos de 48 horas nós vamos reagir, queremos saber também se o Congresso vai liberar saneamento, privatização da Eletrobras, tudo isso são recursos públicos que nós precisamos para retomar os investimentos.

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A afirmação foi uma resposta às declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, pediu que o governo adotasse medidas contra a crise.

Guedes se reuniu nesta sexta-feira com o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, e com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, para discutir que novas ações podem ser tomadas.

Segundo o ministro, todas as medidas que não afetem o equilíbrio fiscal estão na mesa. Questionado sobre possíveis desonerações, ele disse que a questão precisa ser “muito pensada”.

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— Se você quiser facilitar o capital de giro nos bancos públicos, por outro lado retardar um pouco o recolhimento, facilitar, por dois ou três meses tá um crise de fluxo de caixa, você deixa atrasar, mas você não pode abrir mão dessas receitas se não você incorre em crime de responsabilidade fiscal - afirmou.

Emendas parlamentares

O ministro defendeu que os recursos do Orçamento (as emendas parlamentares) que estão sendo disputados pelo Congresso e pelo Executivo sejam utilizados contra o coronavírus.

— O que é o mais sensato agora? Pega esse dinheiro da disputa política e ele vira o dinheiro do coronavírus. Pega esses R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões que estavam sobre disputa e vamos atacar a doença com isso - afirmou.

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Segundo Guedes, R$ 5 bilhões vão para o Ministério da Saúde, como pedido nesta semana pelo ministro Luiz Henrique Mandetta, e os outros R$ 5 bilhões ou R$ 10 bilhões seriam para reparar ou atenuar danos em vários setores.

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Guedes disse que se a reação à crise for correta, ela acaba dentro de cinco ou seis meses. Ele usou o caso da China onde, segundo ele, a crise “está oficialmente em desaceleração”. Além das medidas imediatas, o ministro reforçou a importância das reformas.

— Nós temos dinâmica própria para sair da crise. Basta nós aceleramos as reformas e a solução será política então os principais líderes políticos do Brasil tem que se reunir e acelerar as reformas - disse.

BC diz que economia tem liquidez

Antes da reunião com os presidentes dos bancos públicos, o ministro conversou com o presidente do BC. Guedes relatou que Campos Neto assegurou a ele que a economia tem liquidez.

— Ele também está monitorando as condições de liquidez da economia. Ele me assegurou que as condições de liquidez estão absolutamente estáveis e ele vai garantir essa manutenção da estabilidade na assistência de liquidez - afirmou o ministro.

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Segundo Guedes, o Banco Central vai anunciar novas medidas para garantir essa liquidez.

— Ele me disse que os bancos brasileiros estão absolutamente líquidos, absolutamente confortáveis - afirmou o ministro.

Bancos públicos

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que o banco tem R$ 75 bilhões disponíveis para crédito em três linhas. A primeira, para compra de carteira de bancos médios, caso seja necessário. Guimarães fez questão de ressaltar que atualmente não há necessidade.

— Nós temos R$ 30 bilhões para compra de carteira de bancos médios, se precisar. Até hoje não precisa. (Esses recursos são) focados em dois segmentos que a Caixa já atua, consignado e automóveis.

A segunda linha é de R$ 40 bilhões, para capital de giro para a área imobiliária, e focada nas pequenas e médias empresas. A terceira é no segmento de crédito agrícola, em que R$ 5 bilhões estão disponíveis.

Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil, disse que está monitorando a situação e apoiando os clientes. Novaes entende que a crise é séria, mas passageira e que o nível de crédito que será disponibilizado depende da demanda.

— O Banco do Brasil está pronto para entrar em campo reconhecendo que é uma crise temporária e que as empresas saudáveis merecem suportar esse período de transição.

Para Guedes, os bancos estão atentos aos efeitos da crise, inclusive para atender aos bancos médios em caso de emergência.

— Os bancos públicos estão atentos, muito líquidos, preparados para os pontos possíveis de fragilidade. Inclusive para banco médios se houver um problema, não há no momento. Eles estão bem - afirmou.